Lula: “O Brasil não merece o que está acontecendo” Paris – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em Paris, que seu país não merece o que está acontecendo, referindo-se à crise política que sacode seu governo devido à denúncia de corrupção. “O Brasil não merece o que está acontecendo e sim algo muito melhor”, declarou o presidente à imprensa depois de participar junto com o presidente francês Jacques Chirac no desfile militar de 14 de julho, dia da festa nacional francesa. No segundo dia de sua visita oficial a Paris, o presidente brasileiro voltou a evitar qualquer pergunta relacionada com esta crise que provocou a saída do governo de seus homens de confiança. “Esta recepção em Paris me agradou muito. A França nos trata com muita dignidade”, acrescentou Lula. Para alguns membros da delegação brasileira que acompanha o presidente, “vir a Paris nesse momento foi algo muito positivo, já que Lula pôde sentir o apreço e a admiração que provoca no exterior”. “O presidente Chirac não é um homem de esquerda ou de direita, não é um político com preconceitos e sim um grande estadista que trata a todos por igual e com grande respeito”, elogiou Lula na recepção oferecida pelo presidente francês depois do desfile. Posteriormente, Lula foi recebido com samba pela cantora Elba Ramalho durante sua visita a uma exposição que faz parte do Ano do Brasil na França, em um centro cultural situado no coração da capital francesa. “Este ato demonstra muito bem as estreitas relações com este país amigo e ressalta a importância da presença aqui de um homem com o talento, o compromisso e a história de nosso presidente”, assegurou, por sua parte, o ministro da Cultura Gilberto Gil. Lula, convidado de honra do governo francês neste 14 de julho, concluiu o dia vendo os fogos de artifício na Torre Eiffel, acompanhado do prefeito da cidade, o socialista Bertrand Delanoe. Hoje, antes de deixar a capital francesa, Lula se reunirá de novo com Chirac e com o primeiro-ministro Dominique de Villepin.

AUTENTICIDADE – Lula não tem o brilho do intelectual do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas a autenticidade e a franqueza de um ex-operário, mais preocupado com as questões sociais do País, concordam políticos franceses, até mesmo o ex-ministro socialista da Cultura na gestão do ex-presidente François Mitterrand, Jack Lang, quando definem e comparam as qualidades de Lula e Fernando Henrique, os dois muito próximos à França. O ex-presidente impressionou pelo discurso a Assembléia Nacional Francesa, mas o atual presidente conquistou, com a simplicidade a classe política francesa, políticos de direita e esquerda. FHC antigo professor em Nanterre no tempo da ditadura brasileira, e Lula, antigo sindicalista brasileiro próximo a Confédération Française Démocratique du Travail (CFDT-Confederação Francesa Democrática do Trabalho), uma das grandes centrais sindicais da França.

O atual presidente, ontem, no discurso de improviso no “garden party” do Palácio do Eliseu, onde foi recebido por Chirac, explicou as razões da proximidade com a França, ao afirmar: “Quero fazer uma confissão. Visito a França desde os anos 80. Tive relações com o movimento sindical e depois com o Partido Socialista. Quando venci as eleições, aqui estive como presidente eleito e fiquei imaginando qual seria a minha relação com o presidente Chirac”.