Para abreviar crise, Lula quer “entregar cabeça” de Dirceu O presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula diretamente a tentativa de acelerar o desfecho da crise -patrocinou, por exemplo, o acordo entre as CPIs dos Correios e do Mensalão para a confecção do relatório comum que pediu a cassação de 18 congressistas.

Lula admite que precisa entregar a cabeça do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para provar que “cortou na carne”. Seria requisito para dar continuidade à subida de tom em relação à oposição, colocando-se como vítima de ataques, na sua opinião injustos, na tentativa de recuperar a esperança de se reeleger em 2006.

O presidente julga que o governo precisa mostrar que levantou as principais provas até agora. Daí ter pedido na segunda-feira ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) relatório de todas as investigações do governo desde a divulgação das primeiras acusações de corrupção em maio.

Nas conversas reservadas, Lula diz que Dirceu não tem chance de escapar da cassação e que o ex-ministro sabe disso, mas luta para preservar o mandato por ser “cabeça dura”. O presidente acha que assim só estende um processo político desgastante para o governo e para o PT. Na avaliação de Lula, Dirceu está morto politicamente. Para o presidente, está errada a estratégia de Dirceu. Seria melhor se levasse o processo apenas para o lado político.

Perderia o mandato com o discurso de quem foi alijado da vida pública pela segunda vez -a outra foi na ditadura militar (1964-1985), quando viveu exilado em Cuba e clandestinamente no Brasil. Poderia até recuperar o mandato e os direitos políticos no Supremo Tribunal Federal. Além de Lula, as cúpulas dos principais partidos avaliam que Dirceu deverá ser o vice-campeão de votos na sessão secreta em que será analisada a cassação de seu mandato. Só perderá para Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Aliás, Lula considera que seria “muito ruim” cassar apenas “uns dois ou três” parlamentares e Roberto Jefferson (PTB-RJ). Parecerá que houve punição para alguns bodes expiatórios e para quem fez a denúncia que abalou o governo e o Congresso Nacional. Lula ficou preocupado ao ler na terça-feira a entrevista que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), deu à Folha. Nela, Severino defendia punição mais branda a parlamentares que usaram recursos de caixa dois.

Lula comentou com auxiliares que aquele “acordão” seria debitado na sua conta e não na de Severino e dos petistas e aliados. Resolveu agir e, na quarta-feira, teve conversas reservadas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da CPI dos Correios, o senador Delcídio Amaral (PT-MS).

Ontem, falou com muito jeito com Severino que era preciso agilizar os processos de cassação e dar “uma resposta rápida à sociedade”. Severino tem arrastado esses processos. Lula disse a auxiliares que deu aval a Renan e a Delcídio para a fusão dos relatórios das CPIs dos Correios e do Mensalão. Sua expectativa é que agora a CPI dos Correios perca os holofotes, já que o Planalto tem mais força na CPI do Mensalão.

Para Lula, se a crise terminar logo, em novembro, por exemplo, ele terá mais chance de recuperar cacife político. Ele disse a auxiliares que a queda de sua popularidade nas pesquisas se deve aos três meses de bombardeio político e que, no período, a oposição não levantou nada contra ele.

A “operação reta final” será estimulada por Lula e seus principais aliados. Para o presidente, a punição dos 18 deputados citados no relatório conjunto apresentado ontem pelas CPIs dos Correios e do Mensalão, seriam suficientes para dar uma satisfação à opinião pública. Ao final do atual processo, pensa que o Congresso estará com a imagem arranhada e que ele viverá boa fase na economia.