Supremo investiga Severino TEMA DO DIA – CRISE ÉTICA

Ministro Gilmar Mendes determinou a quebra dos sigilos bancário e telefônico do ex-deputado e de Sebastião Buani, dono do restaurante Fiorella, que afirmou ter pago mesada ao pepista

Marcelo Rocha

Da equipe do Correio

Apesar da renúncia ao mandato, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE) será investigado em inquérito sob a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) — o foro encarregado de processar parlamentares. A manutenção do caso no Supremo se justifica pelo fato de o deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) ter sido citado nas investigações da suposta propina paga a Severino em troca da prorrogação de contrato de um dos concessionários da Casa.

A abertura formal de inquérito foi decidida ontem pelo ministro-relator do caso, Gilmar Mendes. O magistrado determinou a quebra dos sigilos bancário e telefônico do ex-deputado e também de Sebastião Buani, dono do restaurante Fiorella que afirmou ter pago “mesada” ao pepista. A quebra dos sigilos seguirá no período de 1º de janeiro de 2002 a 31 de dezembro de 2003. A ação foi pedida ao STF, na semana passada, pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, para quem há provas “concretas” do envolvimento de Severino no escândalo.

De acordo com o despacho do Supremo, será requisitado ao Banco Bradesco, onde Sebastião Buani mantém conta, documentos do depósito no valor de R$ 6,8 mil feito em favor do ex-presidente da Câmara em 30 de julho de 2002, pela secretária Gabriela Kênia Silva Santos Martins, que trabalhava com Severino. Naquele mesmo dia, Gabriela Kênia sacou R$ 7,5 mil da conta de Buani. Esse dinheiro seria uma das parcelas do suposto mensalinho. Retorno A secretária saiu em defesa do patrão e disse, em depoimento na Polícia Federal, que buscou o dinheiro para o filho do pepista, Severino Cavalcanti Júnior, morto em acidente automobilístico às vésperas das eleições de 2002 — ele concorria a uma vaga de deputado estadual em Pernambuco.

Os argumentos de Gabriela não se sustentaram e Severino renunciou ao mandato na última quarta-feira, sob a promessa de que retornará à Casa em 2006, absolvido pelo povo de seu estado.

Agora, cabe à PF esclarecer a situação de outro pernambucano: Gonzaga Patriota (PSB). O ministro do STF determinou aos investigadores que o interroguem. Sebastião Buani chegou a afirmar que acertou a prorrogação do Fiorella na presença de Severeino e de Patriota, que teria recebido R$ 20 mil para redigir o comprometedor documento assinado pelo então primeiro-secretário da Câmara, em abril de 2002. Patriota negou ter embolsado o dinheiro de Buani. Após esse depoimento, Gilmar Mendes poderá analisar se desloca ou não as apurações para a primeira instância da Justiça comum. O STF deferiu ainda outras diligências requisitadas pelo MPF, como o interrogatório de testemunhas — entre elas, Gisele Carvalho Buani, filha do dono do Fiorella — e a inclusão no inquérito do documento sigiloso oriundo do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que demonstrou a transferência bancária de R$ 6,8 mil.