Caso Maluf: transferência de dinheiro piora situação Cópia de uma carta manuscrita de Paulo Maluf, de posse da Polícia Federal, revela que o ex-prefeito solicitou à gerência do UBS de Zurique, na Suíça, transferência de US$ 100 milhões para o UBS de Londres. A carta é datada de 16 de dezembro de 1996 – duas semanas antes de Maluf deixar o cargo de prefeito de São Paulo – e reforça ainda mais os indícios de que ele movimentou fortuna em paraísos fiscais.
A conta do UBS Zurique estava em nome da White Gold Foundation, da qual Maluf seria o único beneficiário segundo o Ministério Público. O então prefeito autorizou a gerência do banco que repartisse o depósito na Inglaterra em quatro partes iguais, uma para cada filho, Flávio, Otávio, Lina e Lígia.
A carta faz parte da documentação que a Suíça enviou ao Brasil. “Jamais assinei esse documento”, rebateu Maluf, por meio de sua assessoria. “Nunca vi essa carta na minha vida”, insistiu o ex-prefeito, que deverá ser indiciado criminalmente no mesmo inquérito em que seu sucessor, o ex-prefeito Celso Pitta, foi enquadrado em maio por delitos de lavagem de capitais, sonegação, evasão de divisas, peculato e formação de quadrilha.
A PF investiga, em parceria com a Procuradoria da República, suposto desvio de recursos públicos em obras contratadas na gestão Maluf (1993-1996) e contas milionárias em paraísos fiscais. A PF vai submeter Maluf a exame grafotécnico, para confrontar sua assinatura à que foi lançada na ficha de abertura das contas da White Gold e da Blue Diamond, offshore das Ilhas Cayman em nome da qual o ex-prefeito teria feito operações financeiras no Citibank de Genebra.
Silêncio Nesta terça-feira, Maluf foi à Promotoria de Justiça da Cidadania, que o investiga por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito. Após duas horas de audiência, em que não respondeu a nenhuma indagação dos promotores, ele deixou o prédio exibindo largo sorriso e os dedos da mão direita para o alto formando o vê da vitória, gestos que usualmente adota quando em campanha. “Reservo-me ao direito constitucional de permanecer em silêncio”, repetiu Maluf por cerca de 40 vezes, número de perguntas que lhe foram feitas pelos promotores Silvio Marques e Sérgio Sobrane. Ambos mostraram a Maluf “documentos internacionais”, mas ele permaneceu calado.
O ex-prefeito não quis falar sobre documentos entregues pelo Deutsche Bank ao Ministério Público que confirmam que a Eucatex S.A. – principal empresa de Maluf -, recebeu entre julho de 1997 e julho de 1998 investimentos de três fundos do Deutsche Morgan Grenfell de Jersey, no valor de US$ 89,3 milhões. Os papéis do Deutsche indicam que parte do dinheiro enviado ao exterior pode ter sido repatriada. O dinheiro passou pela agência do banco em Nova York, antes de chegar ao Brasil, e foi usado na compra de debêntures convertidas em ações ordinárias e preferenciais nominativas da Eucatex.