Dragão confinado O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura também terá seu cordão de isolamento no Fortal. O equipamento estará fechado e cercado por tapumes durante os quatro dias de folia. A medida visa a resguardar o Centro de possíveis depredações
Carolina Dumaresq da Redação
Há três semanas do início do carnaval fora de época, o Fortal ainda ensaia sua coreografia. Sem conseguir acertar os passos com o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, proprietários de bares do entorno e Iphan, o evento sofre semanalmente com medidas judiciais que tentam desviar a rota dos brincantes para longe da Praia de Iracema. Inicialmente prevista para sair do ”quintal” do Dragão do Mar, a micareta avançou a distância de 250 metros diante dos argumentos do bloco dos descontentes. Pelo menos até a próxima decisão judicial, os foliões iniciarão o trajeto na avenida Almirante Barroso, altura da lanchonete Bob’s.
Medida considerada ineficaz pelo Centro Dragão do Mar, que sinalizava há algum tempo com a possibilidade de paralisar suas atividades caso o Fortal não fosse transferido para outro local. Agora o equipamento fechou questão. A alternativa tradicional aos altos decibéis reverberados pelos trios deixará de ofertar, pela primeira vez em cinco anos de existência, sua programação cultural.
Exibições audiovisuais, espetáculos de dança e de teatro, shows, visitação aos museus, cortejo e pelo menos cinco atividades infantis não vão acontecer entre os dias 29 de julho e 1 de agosto. Somente no final de semana, o Museu de Arte Contemporânea recebe a média de 1.200 visitantes. Este mês, a grande atração do local é a exposição do pintor expressionista Iberê Camargo, que cerrará suas portas durante os quatro dias de festa. Portas fechadas também no planetário, que nas férias alcança a marca de 470 crianças por final de semana. No total, passeiam pela grade de programação do equipamento cerca de 20 mil pessoas. Os bares prometem protestar. ”É inviável o funcionamento, certamente vamos ter depredação e tumulto”, avisa Célio Paiva, proprietário do Amici’s.
De acordo com Luís Carlos Sabadia, diretor de Ação Cultural do Dragão do Mar, o equipamento será cercado por tapumes para garantir a integridade da estrutura física. ”A própria indefinição do Fortal já prejudica a programação. Temos que negociar pautas para os espetáculos e fechar eventos com antecedência. Caso o Fortal realmente ocorra nas imediações, não poderemos correr riscos”.
Desde o anúncio da mudança do roteiro do Fortal, que até ano passado saía do cruzamento da avenida Beira Mar com a rua Manuel Jesuíno, o assunto é polêmico. Primeiro o Centro Dragão do Mar previu danos ao planetário, sensível a vibrações sonoras. Na seqüência o Iphan manifestou preocupação quanto à preservação do sítio histórico do local. Depois foi a vez da Secretaria de Saúde, que tem uma unidade situada a poucos metros do ponto escolhido para a concentração.
Mas as maiores labaredas foram cuspidas pelo Dragão. O governador Lúcio Alcântara interveio e, há duas semanas atrás, técnicos da Prefeitura realizaram testes para medir a intensidade sonora na região. O relatório final considerou desprezível impactos na estrutura do planetário. Ainda assim, as instituições e os estabelecimentos comerciais argumentam risco de depredação em virtude da grande concentração de pessoas no local.
O acesso até o Centro seria outro complicador. Conforme o esquema divulgado pela Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), a área toda será isolada. O quadrilátero traçado pela vias Alberto Nepomuceno, Pessoa Anta, Almirante Jaceguai e Monsenhor Tabosa será interditado. Segundo o órgão, a Almirante Jaceguai, rua que passa ao lado do Dragão do Mar, será liberada apenas para a passagem dos trios. Mesmo com a promessa de manter o som desligado durante o trajeto até a concentração, o acesso dos trios pela via causou descontentamento. ”São caminhões com mais de 35 toneladas que poderão provocar perturbações de ordem mecânica. Não é a situação ideal. Apresentamos uma alternativa de acesso mais a leste do Dragão do Mar. Não sou contra o Fortal, mas até hoje a festa não encontrou local adequado”, avalia o presidente do Iphan Romeu Duarte.
Do outro lado, os organizadores da micareta reagem. O diretor da Click Promoções, Elenilton Jorge, informou que a atual configuração não oferece prejuízos. ”Não vejo porque fechar o Dragão do Mar. Pela distância não oferece risco algum. Estamos ainda com policiamento para garantir a programação deles. Em todo caso, estamos contribuindo com o que é solicitado. Eles pediram para que cercássemos o local e nós vamos fazer”, informou.