MP denuncia padre Zé Linhares Daniel Sampaio Especial para O POVO

O Ministério Público entrou com ação de improbidade administrativa contra o deputado federal padre José Linhares (PP) e mais quatro pessoas. O grupo é acusado de desviar aproximadamente R$ 2,6 milhões da Santa Casa de Misericórdia de Sobral entre 1998 e 2003. No período, o deputado administrava a instituição, que recebe 90% de sua verba do Sistema Único de Saúde (SUS).

O MP pediu a indisponibilidade dos bens e a quebra do sigilo bancário de Padre Zé, da ex-contadora do hospital, Maria Cavalcante Linhares, do ex-ordenador de despesa da instituição, José Osani de Andrade Aragão, do sócio-proprietário da empresa Execute, Márcio Vasconcelos Rocha, e da ex-administradora do Hotel Visconde, Valéria Frota Aragão.

Além de exigir que o grupo arque com os prejuízos, o MP pede que os envolvidos percam suas funções públicas, tenham direitos políticos suspensos e fiquem impedidos de exercer qualquer cargo administrativo na Santa Casa. A ação poderá resultar também na cobrança de multa de até duas vezes o valor do prejuízo.

De acordo com o MP, Maria e José Osani pagavam para o padre Zé combustível, despesas com o Derby Club, telefones, energia elétrica, IPVA de veículos particulares, despesas com sua casa em Sobral, um sítio na serra da Meruoca e seu apartamento em Fortaleza. O prejuízo calculado seria de R$ 157 mil.

Outro caso apontado foi o da empresa Execute, que tem como sócio-empresário Márcio Vasconcelos. Dez impressoras teriam sido compradas da Execute pela Santa Casa por R$ 4 mil, mas com adiantamento de R$ 67.159,00. Teriam saído ainda os cofres da Santa Casa gratificações para a administradora do Visconde Hotel, Valéria Frota, no valor de R$ 22,6 mil.

Um caso curioso do abuso do dinheiro público, segundo o relatório, teria acontecido em 2000, durante o aniversário do deputado. Um helicóptero teria sido pago pela Santa Casa, saindo de Fortaleza para Sobral, com o intuito de jogar 18 quilos de pétalas sobre a festa.

O advogado do padre, Francisco Lopes, disse que não há prova nenhuma contra o deputado e descredenciou a denúncia. ”O Ministério Público pede tudo, o juiz é quem sabe. É uma denúncia vazia, não existe nada contra ele. O bispo já tinha autorizado o Padre Zé a se resarcir de todas as despesas de cunho pessoal”, contou.

Lopes responsabilizou dom Aldo Pagotto, ex-bispo de Sobral e atualmente arcebispo de João Pessoa (PB) pela denúncia. ”Acho que ainda é resquício da raiva de dom Aldo. O Ministério Público recebeu a denúncia dele. Ele é vingativo, uma pessoa má, e quer desgastar a imagem do padre Zé”.

De acordo com o advogado, todas as contas do que foi recebido foram prestadas à União e a Irmandade – entidade gestora da Santa Casa – vai abrir a contabilidade ”para esclarecer a verdade”. Segundo ele, a instituição não se manifestou até agora ”porque não tem prova de qualquer desvio”.