Relatório pede investigação para juízes O extermínio de cidadãos no Nordeste envolve políticos, juízes, delegados e muitos policiais. É o que revela uma investigação de quase um ano, feita pela CPI do Extermínio no Nordeste, da Câmara dos Deputados.
As vítimas, em sua maioria, são jovens entre 15 e 25 anos, negros e pobres. Antes mesmo da votação do relatório – redigido pelo deputado Luiz Couto (PT-PB), parlamentares começaram a receber pressões de colegas para não divulgar os nomes dos envolvidos como mandantes ou “protetores” do extermínio. O relatório diz que há uma estrutura “mafiosa” infiltrada na vida econômica, na ordem social, na Administração Pública e na Justiça do País.
Uma das zonas com maior número de mortes é a divisa entre Paraíba e Pernambuco. A CPI pede que seja formada equipe especial para investigar o ex-prefeito de Itambé (PE), José Frederico Carrazone, e o vereador Sílvio Félix, por suposto envolvimento com criminosos. O relatório recomenda a investigação do deputado estadual paraibano Manoel Júnior (PMDB) e do juiz Ailton Melo.
É recomendada ao governo da Paraíba a reabertura de inquérito para investigar as quadrilhas dos traficantes João Bigode e Jean Lopes, acusadas de várias execuções sumárias. A CPI pede que sejam levantados os vínculos de cinco delegados com os grupos de extermínio, entre eles Fernando Barbosa de Carvalho e Frederico Magalhães. Ao Tribunal de Justiça, recomenda-se que avalie a atuação do desembargador Júlio Paulo Neto nas questões fundiárias.
No Ceará, o crime de extermínio e as execuções sumárias apresentam maior intensidade. Os criminosos cortam as orelhas e as colocam dentro da boca das testemunhas e dos informantes.
Há recomendação para que o governo do Ceará crie inquérito para investigar as acusações contra o delegado Luís Alves Neto e o major Klerton Macambira, ex-comandante da PM, por omissão em relação aos crimes de grupo de extermínio.
Na Bahia – onde os comerciantes pagam R$ 50 pela vida de um adolescente, a CPI pede que seja nomeado um delegado especial para investigar denúncia feita pela juíza Olga Guimarães, de Juazeiro, sobre a execução de 198 jovens, com eventual participação direta ou omissão dos delegados Manoel de Santana, Adailton Souza Adan e José Alberto Alencar Braga, além de vários outros policiais.
Ainda na Bahia, a CPI pede que seja instaurado inquérito para investigar “a conivência” da ex-secretária de Segurança Pública, Kátia Alves, com o roubo de cargas e a criminalidade, e do seu irmão, Otaviano Alves Neto, com o narcotráfico. A CPI pede investigação dos deputados estaduais Pedro Alcântara (PL), por suposto envolvimento com o tráfico, e Rogério Andrade (PL), por eventual apoio aos grupos de extermínio.
O relatório solicita que o governo de Alagoas investigue o envolvimento da cúpula dos órgãos de segurança pública com o crime organizado e recomenda que a Assembléia Legislativa avalie a procedência de denúncia de envolvimento de parlamentares com atividades criminosas. Na lista estão os deputados Francisco Tenório (PPS), Luiz Pedro (PDT), Cícero Ferro (PMDB), Antônio Albuquerque (PL) e João Beltrão Siqueira (PSL). O governo de Sergipe é orientado a fazer uma séria “avaliação das responsabilidades” do secretário de Segurança Pública, Luiz Mendonça, e do tenente-coronel Maurício Iunes na fuga de Ricardo Calheiros da Delegacia Metropolitana. A CPI recomenda aos partidos critérios rigorosos para afastar os políticos.