Força-tarefa investiga 137 políticos por lavagem de dinheiro Depois de sete anos investigando o esquema de lavagem de dinheiro que operou no antigo Banestado, a força-tarefa formada por auditores fiscais, policiais federais e procuradores da República identificou 137 políticos que usaram mecanismos fraudulentos para remeter ou receber dólares do exterior por meio das contas CC-5 do Banco Central. “Antigamente, a coisa era seletiva, ficava recaindo sobre as parcelas mais desassistidas da população. Agora, quem foi acusado não é o zé mané da esquina, não”, disse nesta quinta-feira o procurador-geral da República, Cláudio Fontelles. O chefe do Ministério Público Federal não quis revelar nomes.
Os procuradores identificaram ainda 411 funcionários públicos federais que também enviaram ou receberam dinheiro do exterior, ilegalmente, por meio do Banestado. Este grupo usou laranjas ou empresas de fachada para movimentar, só em 2001, R$ 459,1 milhões. No mesmo ano, os funcionários públicos arregimentaram um patrimônio superior a R$ 1,5 bilhão, apesar de terem um rendimento salarial (somado) de R$ 307 milhões. Quase 97% das remessas feitas pelos servidores ficarem disponíveis no exterior, o que é indício de sonegação. A Receita Federal autuou os políticos e funcionários públicos em R$ 3 bilhões. Segundo os procuradores, 71% das contas CC-5 pertencem a instituições financeiras com sede no Paraguai ou em paraísos fiscais como Nassau, Ilhas Cayman e Uruguai.
O MP também entrou com ação civil de improbidade administrativa contra os ex-presidentes do BC Gustavo Franco e Gustavo Loyola e os ex-diretores Cláudio Mauch, Alkimar Moura e José Maria de Carvalho. Estes executivos são acusados de conivência com o esquema que existia no Banestado. Além deles, também responderão à mesma ação ex-diretores do Banco do Brasil (BB), entre eles, Ricardo Sérgio de Oliveira. A procuradoria também resolveu imputar responsabilidade aos bancos Araucária, do Estado de Minas Gerais (Bemge), Real e Banestado.
Desde maio de 2003, quando começou a investigar o caso, a força-tarefa denunciou 373 pessoas à Justiça Federal de Curitiba e outras 68 em Foz do Iguaçu (PR). A Justiça condenou 16 envolvidos na fraude, entre eles, o ex-diretor do banco Gabriel Nunes Pires Neto, o assessor da diretoria José Luiz Boldrini e o doleiro Alberto Youssef. Embora condenado a sete anos de prisão, Youssef foi solto por ter colaborado com as investigações. O Ministério Público conseguiu na Justiça o seqüestro de bens de 109 pessoas e a quebra de sigilo de outras 27. Até agora, os procuradores conseguiram o arresto de bens no valor de R$ 107,3 milhões.
O trabalho dos procuradores se voltará agora para identificar a origem dos bilhões levados ilegalmente para o exterior. As investigações tornaram possível a Operação Farol da Colina, realizada há duas semanas pela Polícia Federal – e que prendeu 64 doleiros em oito Estados. As investigações usaram o banco de dados da conta Beacon Hill, aberta por doleiros no J. B. Morgan Chase em Nova York. “A nossa preocupação é não denunciar simples laranjas, mas também gerentes e ex-diretores de banco, além de doleiros”, diz o procurador Carlos Fernando dos Santos.