Lula defende mídia livre, mas não cita CFJ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso enfático em defesa da liberdade de imprensa, mas ignorou as críticas que havia acabado de ouvir de dois ex-presidentes e do atual presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais) em relação à criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo).
O presidente participou ontem da cerimônia de posse da nova diretoria da ANJ, que a partir de agora será presidida por Nelson Pacheco Sirotsky, do jornal gaúcho “Zero Hora”. Antes de fazer seu pronunciamento, o presidente ouviu os discursos de Francisco Mesquita Neto, presidente do conselho editorial do jornal “O Estado de S. Paulo” e ex-presidente da ANJ, do também ex-presidente da ANJ Paulo Cabral de Araújo e do próprio Sirotsky. Todos criticaram a criação do CFJ.
“Os associados à ANJ são responsável e democraticamente contrários à criação do CFJ”, disse Sirotsky, para completar: “Senhor presidente, a presença de Vossa Excelência nesse ato, em um momento em que se discutem tantos temas relacionados ao exercício de nossa atividade, é compreendida por nós como uma reafirmação de seus compromissos históricos com a liberdade de expressão e com a democracia”.
Referindo-se às ameaças à liberdade de expressão, o ex-presidente da ANJ Paulo Cabral de Araújo disse que “o dragão da escuridão permanece vivo. Aparece aqui e ali. São exemplos os casos recentes de projetos de criação da Ancinav [Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual] e do CFJ”.
Mesquita Neto, que já havia criticado o projeto na abertura do 5º Congresso de Jornais, que começou na segunda-feira e durante o qual foi feita a cerimônia, repetiu as críticas. “É incompatível falar em liberdade de expressão e regulamentação de imprensa ao mesmo tempo”, disse.
O presidente, que foi o último a falar, ouviu todos os discursos. Durante seu pronunciamento, no qual fez uma defesa enfática do direito de expressão e da liberdade de imprensa, ele não mencionou nenhuma vez o projeto de criação do conselho.
O presidente afirmou que “o direito à informação do cidadão é quase sagrado”. Ele disse que apenas a liberdade plena de imprensa pode atender o direito à informação. “Nós sabemos que sem informação de qualidade o cidadão não tem como exercer a plenitude de seus direitos, e a liberdade de imprensa é a outra face da moeda do direito à informação.”
O presidente chegou a dizer que a imprensa comete erros, mas admitiu que as falhas ocorrem em todos os setores da sociedade. “Há erros, há distorções? Sem dúvidas. Mas há problemas, erros e distorções também no governo, assim como há problemas e distorções em todas as atividades.”
Admitindo que como cidadão podia se incomodar, ou “sofrer intimamente” com injustiças cometidas pela imprensa, o presidente concluiu que “na condição de governante eu não posso me incomodar quando leio uma crítica séria ao governo”.
“O que me incomodava era viver sob um regime no qual o governo se dedicava a censurar artigos de jornais. Isso não voltará a acontecer no Brasil, e muito menos voltará a acontecer de forma dissimulada”, disse Lula, que afirmou ainda que ” a melhor receita para o vigor de jornalismo é sem dúvida nenhuma a liberdade”.
O presidente discursou para uma platéia composta por jornalistas, profissionais e empresários do setor. Faziam parte da mesa da cerimônia, além de Mesquita Neto e Sirotsky, o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), o governador Germano Rigotto (RS), o vice-governador Cláudio Lembo (SP) e o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo.