Lula critica alienação de políticos ricos O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a pequena cerimônia de recepção ao presidente da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para criticar a alienação de políticos ricos — estrangeiros e brasileiros — com relação à fome.
Nem mesmo os países pobres foram poupados pela falta de compromisso com a fome, fator que, segundo Lula, desmotiva o financiamento internacional. ‘‘Imagina convencer um político europeu, um político americano, ou mesmo um político saído das classes mais abastadas do Brasil a se preocupar com a fome. Não está no seu cotidiano, no seu dia-a-dia. Então ele não tem nenhuma razão para estar preocupado’’, disse Lula.
Jacques Diouf, presidente da FAO, discursou em português e pediu mais empenho na conservação da biodiversidade, em especial lutando contra o desmatamento, problema sério no Brasil. Lula discursou de improviso e rompeu a formalidade. Ao usar a expressão en passant (de passagem) disse que essa parte não precisaria ser traduzida ao convidado, que é senegalês e fala francês. ‘‘Eu preciso aprender a não burlar o protocolo’’, disse, levantando gargalhadas.
Numa espécie de autocrítica coletiva, Lula disse que nos países pobres falta ‘‘objetividade’’ nos programas de combate à fome. Uma das principais críticas ao Fome Zero é a dispersão de esforços e a falta de foco.
Para expressar sua ‘‘teimosia’’ em converter o mundo à sua causa, Lula lembrou da falta de apoio dos Estados Unidos, expressada nesta semana em Brasília pelo secretário de Estado, Colin Powell, à criação de uma taxa mundial para financiar o combate à fome. ‘‘Não adianta ficar nervoso porque o presidente Bush não concorda com o Fundo de Combate à Fome. Não adianta ficar de cara feia. É preciso que a gente o convença disso’’, disse Lula no seu discurso improvisado.
Rebatendo indiretamente as avaliações de que o Fome Zero é uma cruzada retórica e publicitária, Lula negou estar fazendo uma ‘‘bravata’’. ‘‘Não é possível resolver os problemas do mundo apenas com a sabedoria da mente. É preciso que a gente use 50% da nossa inteligência mental e 50% da inteligência do coração.’’ ‘‘É por isso que eu faço questão de repetir sempre que a fome é a arma mais mortífera que temos hoje no planeta Terra. Nenhuma guerra destrói tanto quanto a fome”, disse.