“Justiça”: Documentário percorre os corredores do Sistema Judiciário O documentário “Justiça”, de Maria Augusta Ramos, que registra as lacunas do Sistema Judiciário brasileiro será exibido na próxima quarta-feira, dia 10 de novembro, às 18h30min, no teatro Nadir Papi Sabóia (rua 8 de Setembro, 1331 – Varjota). O filme retrata de forma contundente o que se passa nos corredores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O local é apenas uma metáfora para as deficiências que assolam o sistema como um todo.

O documentário acompanha o papel de diversos personagens do universos jurídico como promotores, defensores, advogados e réus. Mais do que um retrato “jornalístico” do sistema, o movimento da câmera costura os dramas pessoais com o dia-a-dia da burocracia dando ao espectador uma sensação de descontinuidade, de perda de rumos. As apostas do argumento e do roteiro renderam à película alguns títulos como a Seleção Extraordinária 2003 para projetos de distribuição de filmes de longa-metragem da Petrobras e a seleção para os festivais de Roterdam, Munique e São Petesburgo.

Com 100 minutos de duração, o documentário terá exibição gratuita e, após a seção, ocorrerá um debate sobre o Sistema Judiciário brasileiro.

O evento é uma realização do escritório Ribeiros Consultores Associados e tem o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE), do Observatório da Justiça e da Cidadania (OJC-CE), da Associação Cearense do Ministério Público (ACMP), da Faculdade Farias Brito, dos Escritórios Pragmácio e Leitão advogados e do Clube do Advogado.

Um choque de realidade (texto de Pedro Butcher, Revista Cinemais)

Justiça, documentário de Maria Augusta Ramos, pousa a câmera onde muitos brasileiros jamais puseram os pés – um Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro, acompanhando o cotidiano de alguns personagens. Há os que trabalham ali diariamente (defensores públicos, juízes, promotores) e os que estão de passagem (réus). A câmera é utilizada como um instrumento que enxerga o teatro social, as estruturas de poder – ou seja, aquilo que, em geral, nos é invisível. O desenho da sala, os corredores do fórum, a disposição das pessoas, o discurso, os códigos, as posturas-todos os detalhes visuais e sonoros ganham relevância.

O espaço, as pessoas e sua organização são registrados de maneira sóbria. A câmera está sempre posicionada em relação à cena mas não se move dramaticamente, não busca a falsa comoção. Sinal de respeito, de não-exploração. No filme, não há entrevistas ou depoimentos, a câmera registra o que se passa diante dela.

Maria Augusta Ramos observa um universo institucional extremamente fechado e que raras vezes é tratado pelo cinema ficcional brasileiro. Seu filme é tão mais importante em função de nossas limitações em termos de representação dos sistemas judiciais. Em geral, nosso olhar é formado pela visão do cinema americano, os “filmes de tribunal”. Justiça, sob esse aspecto, é um choque de realidade.

A cineasta vai acompanhar um pouco mais de perto uma defensora pública, um juiz/professor de direito e um réu. Primeiro, a câmera os flagra no “teatro” da justiça; depois, fora dele, na carceragem da Polinter e na intimidade de suas famílias. Com suas opções claras, que não são escondidas por sua opção pela sobriedade e pela simplicidade, Maria Augusta Ramos deixa evidente que, como os documentários, a justiça está muito longe de ser isenta. Como e para quem a justiça funciona no Brasil é a questão que se apresenta em seu filme, sem respostas definitivas ou julgamentos preconcebidos.

Diretora: Maria Augusta Ramos é uma cineasta premiada internacionalmente. Seu filme Desi recebeu o Prêmio de Público no Festival Internacional de Documentários de Amsterdam, a Cannes do gênero, e o Bezerro de Ouro, prêmio máximo do cinema holandês.

Ficha técnica: 2004 | 100 minutos. Uma co-produção Selfmade Films, Limite Produções, NPS. Visite o site oficial do filme: www.justicaofilme.com