Bomba mata promotor que investigava inimigos de Chávez Caracas – Um atentado a bomba matou na noite de anteontem (ontem de madrugada no Brasil) o promotor venezuelano Danilo Anderson, de 38 anos, que investigava cerca de 400 envolvidos no fracassado golpe de Estado de abril de 2002 – durante o qual o presidente Hugo Chávez, ficou afastado do cargo por 47 horas.
Segundo fontes policiais, uma carga de explosivo C-4, acionada por controle remoto, foi colocada embaixo do furgão Toyota do promotor, quando ele transitava pelo distrito de Los Chaguaramos, oeste de Caracas.
O corpo de Anderson ficou totalmente calcinado após a explosão e a confirmação de sua identidade só ocorreu na manhã de ontem.
O assassinato causou o cancelamento da viagem de Chávez para a Costa Rica, onde participaria da XIV Reunião de Cúpula Ibero-Americana. Estava previsto para ontem à noite um pronunciamento televisivo do presidente sobre a morte do promotor.
Ao mesmo tempo, o vice-presidente José Vicente Rangel, que qualificou o assassinato de “um brutal ato terrorista”, descartou a possibilidade de decretar um estado de emergência em todo o país – como sugeriram inicialmente algumas emissoras de rádio e TV.
“O governo federal recebe com absoluta serenidade esse fato e chama toda a população a manter-se calma”, disse Rangel.
“Não queremos excessos de nenhuma natureza”.
Quase todas as personalidades políticas investigadas por Anderson eram civis, uma vez que os integrantes das Forças Armadas que tomaram parte da tentativa de golpe respondem a processos no fórum militar.
O promotor era alvo das mais pesadas críticas dos opositores de Chávez, segundo os quais sua atuação judicial se devia a uma vingança política do governo chavista.
Numa demonstração de que o assassinato do promotor pode acirrar mais uma vez os ânimos da dividida sociedade venezuelana, dezenas de chavistas se concentraram ontem na frente da sede da Procuradoria-Geral, em Caracas, acusando líderes da oposição pela morte de Anderson e exigindo punições.
HOSTILIZADO – O prefeito opositor do município de Baruta, Enrique Capriles – que, graças à atuação de Anderson, chegou a ser detido por vários meses sob a acusação de ter invadido a embaixada de Cuba durante o golpe -, esteve no necrotério onde se fazia o reconhecimento do corpo e foi hostilizado por partidários do governo.
Rangel afirmou que o assassinato é conseqüência da radicalização do discurso da oposição, citando uma declaração do ex-militar radical Orlando Urdaneta a uma TV de Miami, segundo o qual “o problema da Venezuela pode ser facilmente resolvido com um fuzil com mira telescópica” – referindo-se a um atentado contra Chávez.
Em um comunicado lido pelo ministro da Informação, Andrés Izarra, o governo denunciou que “terroristas” que são “treinados” nos Estados Unidos estariam por trás do “assassinato político” do promotor.
“É evidente que se trata de um assassinato político cujos objetivos principais são os de amedrontar o Poder Judiciário e deter as investigações que Danilo Anderson realizava”, afirma o comunicado.
Segundo o ministro, por trás da morte de Anderson estão “fascistas e terroristas”, alguns dos quais “treinados na Flórida”.