Delegado diz que padre foi assassinado Landry Pedrosa da Redação

[26 Novembro 03h15min 2004]

Depois de ouvir mais de 30 pessoas, o delegado Evandro Alves de Souza, da assessoria técnica da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), chegou ontem à conclusão de que o padre Djair Cavalcante, da paróquia de Santo Afonso (Parquelândia) foi assassinado e não vítima de queda, conforme investigações feitas, anteriormente, na Delegacia do 3º Distrito Policial (Otávio Bonfim). O padre Djair foi encontrado agonizando na garagem da casa paroquial, ao lado da Igreja de Santo Afonso (conhecida como Igreja Redonda), na avenida Jovita Feitosa, na manhã do dia 2 de outubro do ano passado. À noite, por volta das 22 horas, ele morreu na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto Doutor José Frota (IJF).

O inquérito sobre a morte do padre Djair havia sido avocado (deslocado) para a assessoria técnica da SSPDS em abril último depois de tramitar no 3º DP e na 3ª Vara do Júri, para onde foi novamente encaminhado. O caso até agora está sem solução. Embora a Polícia tenha concluído o inquérito dando como assassinato a morte do padre, ainda não se sabe quem foi o autor do crime. Na delegacia do 3º Distrito Policial, onde o inquérito tramitou durante seis meses, o delegado Francisco Braguinha de Souza apurou que o padre Djair morreu vítima de uma queda, embora o laudo do exame feito no corpo do religioso tenha apontado morte compatível com homicídio. Os legistas, no entanto, afirmaram que o inquérito só poderia ser concluído de fato se houve assassinato.

O delegado Braguinha foi o primeiro a presidir o inquérito sobre a morte do padre Djair. Ele afirma não ter encontrado ”outra conclusão que não fosse a queda” para a causa da morte. ”Não existiam indícios de homicídio. Só um laudo apontando ser compatível com homicídio. Mas laudo é uma peça de um todo. Não se pode portanto pegar e definir que foi crime”, defende-se o delegado, que na investigação ouviu cerca de 50 pessoas, enquanto esteve à frente do caso. Braguinha disse que chegou à sua conclusão e para que não pairasse nenhuma dúvida pediu que o inquérito fosse avocado para outro delegado, sem opinião formada, e que se começasse tudo do zero.

O delegado Evandro, ao concluir por assassinato a morte do padre Djair, disse ao O POVO que mandou o inquérito para a Justiça mas, segundo ele, o quer de volta porque ainda há outras investigações para serem feitas. Evandro contou que dois suspeitos do crime foram ouvidos em depoimento, mas descartou nas investigações de que tenham envolvimento no caso. Os suspeitos teriam apresentado álibis, dizendo onde se encontravam no dia em que o padre foi encontrado agonizando. O delegado disse ainda que precisam ser feitos outros exames periciais sobre o caso. ”O promotor Humberto Ibiapina também chegou à conclusão de que o padre Djair foi realmente assassinado”, afirmou Evandro.

PARA ENTENDER O CASO

2003

Dia 2/10 – O padre Djair Cavalcante é encontrado, pela manhã, agonizando na garagem da casa paroquial da Igreja de Santo Afonso, na Parquelândia, e à noite, por volta das 22 horas, morre no Instituto Doutor José Frota (IJF).

Dia 3/10 – A Polícia divulga que o padre teria sido vítima de uma queda, mas a versão é questionada por médicos do IJF que constataram traumatismo craniencefálico com característica de espancamento

Dia 5/10 – O Instituto Médico Legal divulga oficialmente o laudo do exame feito no corpo do padre, porém as circunstâncias da morte permanecem desconhecidas e a Polícia dá o prazo de 30 dias para concluir o inquérito.

Dia 6/10 – A família do padre Djair acredita que ele realmente foi vítima de um homicídio. Foi o que declarou o advogado da família, Assis Cavalcante, que também era primo do sacerdote.

Dia 8/10 – Faltou espaço na Igreja de Santo Afonso, onde foi celebrada missa em sufrágio da alma do padre. Denominada de ”Celebração da Esperança”, a missa foi celebrada pelo arcebispo José Antônio Aparecido Tosi.

Dia 13/10 – Familiares do padre, entidades de direitos humanos e parlamentares conseguem que a Procuradoria Geral de Justiça designasse um promotor para acompanhar as investigações na Delegacia do 3º DP.

Dia 14/10 – O promotor de Justiça Xavier Barbosa Filho foi designado pela procuradora Socorro França para acompanhar as investigações sobre a morte do padre Djair na Delegacia do 3ºDP.

Dia 11/ – O delegado Francisco Braguinha remete o inquérito para a Justiça e pede mais 30 dias de prazo para concluí-lo. Os autos são distribuídos para a 3ª Vara do Júri e entregue ao promotor Humberto Ibiapina Maia.

2004

Dia 6/4 – O delegado Braguinha pede ao então superintendente da Polícia Civil, José Napoleão Timbó, para sair das investigações sobre a morte do padre Djair. Segundo Braguinha, a recusa do Ministério Público ao inquérito por ele concluído, por duas vezes, o deixou desgastado.

Dia 10/4 – O inquérito é avocado para a assessoria técnica da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e entregue ao delegado Evandro Alves de Souza.

Dia 25/11 – O delegado Evandro Alves de Souza, depois de ouvir mais de 30 pessoas chegou à conclusão de que o padre Djair foi vítima de homicídio e não de queda. Ele mandou o inquérito para a Justiça, mas pretende fazer outras investigações.