Lula responde a vaias e defende política externa no Fórum Social Em discurso no lançamento da campanha “Chamada Global para Ação contra a Pobreza”, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu os diversos setores do seu governo, em especial a política externa, e respondeu às vaias dizendo que eram coisas da “juventude” e que os manifestantes eram “filhos do PT”.

Segundo o presidente, é importante para o Brasil ampliar suas relações internacionais. “Nós ficamos olhando o tempo inteiro para a Europa e para os Estados Unidos e ficamos de costas para a África e a Ásia. Hoje é diferente, graças a uma política externa arrojada e propositiva”, discursou.

Lula lembrou que realizou diversas viagens no continente africano e no Oriente Médio e mencionou a criação do grupo G3 (grupo que faz parte Brasil, África do Sul e Índia) e disse que o país luta por um acordo bilateral entre a União Européia e o Mercosul. “Visitamos sete países do Oriente Médio. O último governante a visitar o Líbano tinha sido dom Pedro 2º. Depois fomos para a Índia e para a China. Achamos que esses países juntos podem mudar a correlação de forças para que possamos ter uma predominância da maioria do países e não só dos países ricos”, acrescentou.

Segundo Lula, o Brasil tem uma dívida histórica com a África. “Uma parte da elite brasileira tinha vergonha de olhar para a África. Em dois anos, visitei mais países da África do que todos os outros presidentes. Uma parte do que o Brasil é se deve a África”, afirmou.

Ainda no discurso, Lula defendeu uma ação conjunta entre Brasil e Argentina. “A América do Sul e o Mercosul não serão os mesmos se o Brasil e a Argentina não tiverem uma ação conjunta para dar confiança aos outros países.” Na opinião do presidente, os países emergentes devem se unir para ter mais força para negociar externamente. “Aprendi no movimento sindical que quando a gente é mais fraco tem que juntar com outros fracos para ficar forte. Precisamos juntar os iguais para que a gente possa fazer presença e mudar a geografia do mundo.”

O presidente defendeu ainda outros setores do governo, como o ambiental. “Nós, em dois anos, já demarcamos 47 terras indígenas e instituímos 5 milhões de hectares em reservas florestais –500% a mais que outros governos”, informou.

Ao relatar algumas medidas realizadas nos primeiros dois anos de seu governo, o presidente falou sobre os programas federais de transferência de renda e disse que o governo irá realizar até o final de seu mandato obras de infra-estrutura.

O presidente criticou de forma velada o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ontem disse que Lula deveria “estudar mais história do Brasil”. “Quando terminar meu mandato, não vou nem para a França nem para os Estados Unidos fazer pós-graduação, vou para São Bernardo do Campo [Grande São Paulo], que é onde eu sempre vivi e onde estão meus companheiros.”

Vaias, aplausos e gafes

Apesar da “blindagem” ter evitado que manifestantes se aproximassem, a organização não conseguiu impedir que um grupo de manifestantes vaiasse o presidente dentro e fora do ginásio Gigantinho, onde ocorria o evento.

Ao ouvir as vaias, Lula interrompeu o discurso e disse que talvez os participantes estrangeiros não estivessem entendendo. “Esses que não querem ouvir, são filhos do PT. É próprio da juventude, um dia eles amadurecerão e à casa retornarão e nós receberemos eles de braços abertos”, afirmou. “Os meus filhos vão voltar para a casa porque verão que as coisas estão funcionando muito bem”, acrescentou.

Lula também chamou o atual presidente da Argentina, Nestor Kirchner, de “companheiro Menem”.

Ao enaltecer as mudanças ocorridas nos últimos anos nos países da América do Sul, ele primeiro criticou o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) e depois ao falar de Kirchner acabou trocando os nomes.

“Há pouco mais de dois anos um país importante como a Argentina sequer tinha visão de eleger um presidente da República, porque se imaginava que o Menem voltaria a ser presidente. O que aconteceu na Argentina é que o companheiro Menem [na verdade, Nestor Kirchner] assumiu a presidência da Argentina e está mudando não apenas a relação do governo com seu povo, mas está contribuindo para mudar a relação entre os Estados da América Latina.”

O discurso foi marcado por vaias e aplausos do público presente no ginásio Gigantinho. Ao mesmo tempo que um grupo de 50 estudantes do Rio de Janeiro vaiava trechos do discurso, petistas usando camisetas, que diziam “100% Lula”, aplaudiam as palavras do presidente.

Na platéia, estavam os ministros Olívio Dutra (Cidades), Marina Silva (Meio Ambiente), Tarso Genro (Educação), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Gilberto Gil (Cultura), Dilma Rousseff (Minas e Energia), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Nilmário Miranda (Secretaria Especial dos Direitos Humanos), Nilcéa Freire (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) e Matilde Ribeiro (Promoção da Igualdade Racial).

Além deles, também prestigiaram Lula, o presidente nacional do PT, José Genoino, o senador Eduardo Suplicy, e o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho.