Pistoleiro atrás das grades Rayfran das Neves Sales, o Foigoió, confessou ontem à noite, segundo a polícia, ter atirado na missionária norte-americana Dorothy Stang, assassinada no dia 12 de fevereiro com seis tiros. Ele foi denunciado por um rapaz que o reconheceu a 35 quilômetros de Anapu (PA), cidade onde a freira foi executada.

Fogoió estava a pé, na Rodovia Transamazônica. O rapaz, que tinha visto a foto do pistoleiro, pegou uma moto e foi para Anapu, avisar o fato às autoridades. Ele entrou em contato com o comandante local da operação, Wanderli Baptista que, juntamente com a Polícia Civil, formou a patrulha que prendeu Fogoió. Por questões de segurança, o pistoleiro não ficou em Anapu, mas foi levado de carro para a delegacia de Altamira. Segundo Fogoió, o mandante do crime não é Vitalmiro Bastos de Sousa, o Bida, principal suspeito de encomendar a execução. O nome do suposto mandante ainda não foi divulgado para a imprensa.

A Polícia Civil do Pará também indiciou ontem Amair Freijoli da Cunha, o Tato, por participação no assassinato da freira. O acusado de contratar os pistoleiros que executaram a Irmã Dorothy prestou depoimento em Altamira e, segundo os investigadores, entrou várias vezes em contradição com os fatos relacionados ao crime descobertos até agora. “Não tenho dúvida quanto à participação dele no crime”, afirmou o delegado Waldir Freire.

O indiciamento ocorreu por homicídio doloso, expressão técnica usada para os casos em que o acusado teve intenção de praticar o crime. A participação de Tato teria acontecido na execução da missionária, mesmo sem ele estar presente na hora em que os tiros foram disparados.

Na opinião do delegado, Tato mentiu durante mais de 90% do depoimento quando confrontado com as declarações das testemunhas. Pessoas ouvidas pelos policiais afirmaram, por exemplo, que ele teve uma discussão com Dorothy na sexta-feira, véspera do assassinato. O acusado negou o desentendimento.

Várias testemunhas disseram também que os dois homens acusados de atirar na missionária, Rayfran e Eduardo, andavam armados. Tato negou, embora os dois trabalhassem para ele e morassem no mesmo barraco no meio da selva. Tato declarou ter fugido por três dias na mata depois de perseguido por cerca de 20 colonos ligados a Dorothy, mas os investigadores não viram no corpo dele qualquer marca ou arranhão que comprovasse a afirmação. “Isso não tem o menor cabimento”, concluiu o delegado. Waldir Freire também diz ter certeza do envolvimento de Tato com grilagem de terra na região dos Projetos de Desenvolvimento Sustentado (PDSs), o programa de assentamento de colonos defendido por Dorothy em fase de implantação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O acusado usava de um procedimento próprio para se apropriar de áreas que não lhe pertenciam.

Combinado com Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, suspeito de ser o mandante do crime, Tato usava trabalhadores rurais para ocupar terras e, depois, se apropriava das áreas. “O Tato vai ser o Bida amanhã”, afirmou o delegado. Como exemplo, o presidente do inquérito citou o exemplo da família de colonos que se perdeu da mata depois de fugir da fazenda de Bida com medo de ser assassinada.

Fuga

Orlando Nunes da Costa, os filhos Luiz Henrique e Milidete, e a nora Francimone foram encontrados pela polícia depois de cinco dias perdidos na mata. Os quatro declararam que saíram com quatro crianças de um lote que haviam recebido de Bida numa troca por outras terras, próximas ao rio Xingu, quando souberam da morte de Dorothy. Disseram que ficaram com medo de serem mortos também.

Resolveram, então, procurar Bida para pedir proteção, sem saber que ele era suspeito da morte da misssionária e o encontraram na casa de um empregado. À noite, quando tentavam dormir, teriam ouvido capangas de Bida dizerem que matariam a família inteira.

Resolveram, então, fugir e deixaram as crianças para trás. Cinco dias depois, os quatro adultos apareceram. Na versão do delegado, as terras onde moravam a família, contíguas às ocupadas por Bida e Tato, no futuro seriam agregadas pelo acusado preso em Altamira.