Falta de verba atrasa de exame de DNA em suspeitos Queda ou assassinato? Um ano e seis meses depois, a morte do padre Djair Cavalcante ainda levanta dúvidas de moradores e da Polícia. Pároco da Igreja de Santo Afonso, na Parquelândia, padre Djair, como era mais conhecido pela comunidade religiosa do bairro, foi encontrado agonizando, caído ao chão da garagem da casa paroquial ao lado da igreja, na manhã do dia 2 de outubro de 2003. Algumas horas depois, o padre morreu em decorrência de traumatismo craniano, no Instituto Doutor José Frota (IJF-Centro). Dois suspeitos foram presos na última semana e estão sendo investigados. Um terceiro está preso no nstituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) acusado de tráfico de drogas.

O delegado Evandro Alves e o promotor da 3ª Vara do Júri, Humberto Ibiapina, que acompanha o caso desde o início das investigações, não quiseram citar nomes, mas ambos acreditam que os suspeitos possam ter ligação com o caso. Um deles teria estado na igreja na noite anterior ao crime para pedir dinheiro do padre. Como houve a recusa, o homem teria ficado furioso e ameaçado o pároco, tendo que ser colocado para fora do local por terceiros.

A principal prova, no entanto, está há dois meses engavetada na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Seriam dois pedidos de exames de DNA a serem feitos. O primeiro, nos fios de cabelo apreendidos pela polícia na cena do crime. O segundo seria a coleta de sangue dos dois suspeitos presos temporariamente e mais de um traficante, preso no IPPS, e que também é suspeito de participar do caso. O resultado do primeiro exame seria comparado aos exames de sangue dos suspeitos. O exame nos fios de cabelo custaria cerca de R$ 8 mil e está engavetado por falta de dinheiro, segundo o delegado e o promotor.

O secretário da Segurança, Wilson Nascimento confirmou ontem, durante a solenidade de abertura da Semana do Policial Civil, que falta verba para realização do exame. ”Recebi o pedido há pouco mais de dois meses. Já comuniquei à Justiça que foi dado encaminhamento aos trâmites legais para a liberação do dinheiro”, disse Wilson Nascimento.

Inicialmente, o caso do assassinato de padre Djair foi apurado pelo delegado do 3º Distrito Policial (Otávio Bonfim), Francisco Braguinha, que ouviu dezenas de testemunhas, mas a conclusão do inquérito frustrou familiares do padre, a comunidade religiosa da Parquelândia e até o Ministério Público. Na versão de Braguinha, o motivo da morte teria sido uma queda. Braguinha se defendeu afirmando não ter encontrado elementos suficientes nos autos que indicassem que o padre tivesse sido vítima de homicídio.

Pressionado por familiares e pelo Ministério Público, que não aceitou a versão de queda, seis meses depois, o delegado Braguinha pediu para sair do caso. Foi então nomeado o delegado Evandro Alves de Sousa para prosseguir nas investigações sobre a morte do padre Djair. Agora, quando se completa um ano à frente das investigações, o delegado dá uma nova esperança aos familiares do padre.

PARA ENTENDER O CASO

02.10.03 – Padre Djair Cavalcante é encontrado, por funcionários da casa paroquial da Igreja Redonda, caído no chão e agonizando. Socorrido para o IJF-Centro, o padre morre horas depois no hospital.

03.10.03 – O delegado Francisco Braguinha, do 3º DP (Otávio Bonfim), abre inquérito policial para apurar o caso e começa a ouvir testemunhas.

04.10.03 – Laudo cadavérico realizado no IML aponta que o padre Djair foi vítima de homicídio e não queda, como a Polícia começou a suspeitar.

05.10.03 – Advogado da família do padre Djair afirma que familiares descartam queda como causa da morte.

10.10.03 – O promotor Humberto Ibiapina é designado pelo Ministério Público para acompanhar as investigações policiais.

05.11.03 – O delegado Francisco Braguinha envia o inquérito para a Justiça e aponta queda como causa da morte do padre.

30.11.03 – O inquérito policial é devolvido pelo promotor Humberto Ibiapina para novas diligências. O promotor também não acredita na versão de queda.

12.12.03 – Pressionado por familiares, pela comunidade da Parquelândia e pelo Ministério Público, delegado Braguinha pede afastamento das investigações.

13.02.03 – O então superintendente da Polícia Civil, delegado José Napoleão Timbó, nomeia o delegado Evandro Alves de Sousa para prosseguir as investigações.

16.11.04 – O delegado Evandro Alves de Sousa e o promotor Humberto Ibiapina solicitam que seja realizado o exame de DNA em fios de cabelo encontrados no local do crime.

15.04.05 – Um ano e seis meses depois da morte do padre, o delegado Evandro Alves de Sousa prende dois suspeitos de envolvimento no crime e espera pela realização do exame de DNA nos cabelos encontrados na cena do crime.