Acusados de mortes no Cariri vão a júri Três anos e onze meses depois, o juiz da 1ª Vara do Júri da comarca de Juazeiro do Norte, a 564 quilômetros de Fortaleza, Ademar da Silva Lima pronunciou (mandou a julgamento) na última sexta-feira (29), o advogado Francisco Alfredo Farias Couto e seu primo, o empresário Aníbal Couto Gondim. Os dois são acusados de serem o mandante e o intermediário, respectivamente, pelas mortes da publicitária Luiza Alexandra de Alencar, 22, e da servidora da Universidade Regional do Cariri (Urca), Maria Eliana Gonçalves da Silva, 29. As duas foram assassinadas no dia 8 de junho de 2001, no Cariri.

Na mesma decisão, o juiz Ademar da Silva Lima também pronunciou os acusados de serem os executores Bernard Fernandes Maranhão e Damião Laurentino de Sousa, que estão presos desde julho de 2001, na Penitenciária Agroindustrial Regional do Cariri (Pirc). Gilmário de Araújo Ramalho, que também respondia pelas mortes de Alexandra e Maria Eliana foi impronunciado por falta de provas e acabou sendo posto em liberdade ontem.

A defesa tem cinco dias para apresentar recurso. Do contrário, o advogado e o empresário serão mandados a júri a ser realizado ainda neste ano. A intimação aos acusados começará a ser feita hoje, de acordo como diretor da secretária da 1ª Vara de Juazeiro do Norte, Cícero Vidal. A denúncia havia sido feita pelos promotores da 1ª Vara, Braga Montenegro e Germano Guimarães Rodrigues.

O POVO tentou falar com o advogado Ernando Uchôa Lima, responsável pela defesa de Alfredo Couto. No entanto, conforme o empregado da casa do advogado, que se identificou por Valdeci, Ernando Uchôa se encontrava em Brasília e só retornaria a Fortaleza amanhã (4). Já o advogado Sérgio Gurgel, responsável pela defesa de Aníbal Couto, disse que nem seu cliente sem Alfredo Couto irão a julgamento.”Há uma reclamação correcional parcial no Tribunal de Justiça que não foi julgada. Os autos já foram para a procuradoria”. Segundo Gurgel, a reclamação foi feita pela privação de direito durante o processo. ”Isso já é suficiente para pedir o recurso e ninguém ir a julgamento” advertiu ele.

De acordo com a Polícia e o Ministério Público, a publicitária Alexandra de Alencar era amante do advogado Alfredo Couto. Enciumado por ter descoberto que a amante se relacionava com outras pessoas no Cariri, o advogado teria encomendado a morte de Alexandra. Maria Eliana teria sido morta como queima de arquivo.

Os crimes aconteceram na noite do dia 8 de junho. Ainda conforme as investigações, as duas amigaS haviaM sido levadas de casa por Bernard Maranhão e Damião Laurentino que, horas depois, executaram Alexandra a tiros e em seguida queimaram o corpo num terreno baldio na periferia de Juazeiro do Norte. Já o Corpo de Maria Eliana foi encontrado seis dias depois à 150 quilômetros de Juazeiro do Norte, no município de São José das Piranhas, na Paraíba.

PARA ENTENDER O CASO

2001

8.6. – A publicitária Luiza Alexandra Alencar, 22, é vista pela última em casa, na cidade de Juazeiro do Norte, por volta das 20 horas.

9.6. – Populares encontram o corpo da publicitária num matagal na periferia de Juazeiro do Norte. O corpo estava carbonizado e foi trazido para o IML em Fortaleza.

11.6 – Familiares de Maria Eliana Gonçalves da Silva, 29, que dividia o mesmo apartamento com Alexandra, ficam desesperados com seu desaparecimento e comunicam o fato à Polícia.

14.6 – O corpo de Maria Eliane é encontrado por um vaqueiro em São José das Piranhas (PB), a 150 quilômetros de Juazeiro do Norte. O corpo é também trazido para o IML.

16.6. – A Polícia de Juazeiro do Norte pede a quebra do sigilo telefônico das vítimas e de sete pessoas apontadas como suspeitas.

21.6 – O IML divulga o laudo sobre as mortes de Alexandra e Maria Eliana. As duas, segundo o documento, foram assassinadas com diferenças de poucas horas e sofreram tortura.

23.6 – Bernard Fernandes Maranhão é preso na cidade de Cajazeiras (PB) como sendo um dos suspeitos do duplo homicídio. No mesmo dia é transferido para Juazeiro do Norte.

10.7 – A Polícia anuncia ter identificado o agenciador do duplo homicídio.

6.8 – A Polícia anuncia a prisão de Gilmário de Araújo Ramalho, acusado de ser o executor das mortes de Alexandra e Maria Eliana.

11.8 – A Polícia monta uma operação e prende simultaneamente em Fortaleza e Juazeiro do Norte o advogado Alfredo Couto e o empresário Anibal Couto acusados de serem os mandantes do duplo homicídio.

12.8 – Alfredo Couto é levado para a Superintendência da Polícia Civil para o quartel do BPChoque. Em Juazeiro do Norte Anibal Couto é levado para o quartel do 1º BPM.

23.8 – A Polícia apresenta Damião Laurentino de Sousa acusado de ser mais um envolvido no duplo homicídio. Ele foi preso em Conceição do Piancó (PB).

30.8 – Alfredo Couto e os três acusados da autoria material do crime são interrogados na 1ª Vara do Júri da Comarca de Juazeiro do Norte e negam participação no caso.

6.9 – O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, concede liminar a favor de Alfredo Couto e por conta disso ele ganha a liberdade, 27 dias depois de haver sido recolhido ao BPChoque.

7.9 – Alfredo Couto é solto do quartel do BPChoque.

18.10 – O STJ concede habeas-corpus a favor de Anibal Couto.

2005

29.4 – O juiz da 1ª Vara do Júri de Juazeiro do Norte, Ademar da Silva Lima pronuncia o advogado Alfredo Couto, o empresário Anibal Couto como mandantes do duplo homicídio. Bernard Fernandes Maranhão e Damião Laurentino são pronunciados como executores, enquanto Gilmário de Araújo Ramalho foi impronunciado por falta de provas.