Governo perde mais uma na Câmara Quase três meses após perder a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, o governo sofreu ontem nova derrota em votação secreta. Mais uma vez a ”traição” de parlamentares da base aliada foi apontada como responsável pelo revés do governo. E novamente o deputado Severino Cavalcanti, que derrotou o governo na disputa pelo comando da Câmara, teve participação no revés governista. Dessa vez, a surpresa veio na escolha do representante da Câmara dos Deputados para o Conselho Nacional de Justiça, órgão de 11 integrantes criado para fiscalizar o Poder Judiciário.

O candidato do governo, Sérgio Renault, foi derrotado pelo nome do PSDB e do PFL, Alexandre de Moraes, por 183 votos a 154. Renault é secretário de Reforma Judiciária do Ministério da Justiça e é um dos mentores do novo Conselho. O governo contava com a vitória para ter uma ”pessoa de confiança” no novo órgão. Para agravar o fiasco, o candidato vencedor, Moraes, 36, é homem de confiança do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que desponta como o maior adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2006.

Alexandre Moraes acumula os cargos de secretário de Justiça e de presidente da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (Febem) e afirmou, ontem, que ainda não sabe se deixará os cargos. Para o também recém-criado Conselho Nacional de Ministério Público, que fiscalizará este órgão, foi escolhido Francisco Maurício Albuquerque, indicado pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Advogado pernambucano, ele é pai do secretário particular de Severino, Eduardo.

A candidatura de Sérgio Renault esteve sob risco desde o início. Francisco Maurício Albuquerque era candidato ao Conselho de Justiça, com apoio de vários partidos da base aliada, como PSB, PL, PMDB, PC do B, PP e PTB. Antevendo a derrota, o PT propôs um acordo, fechado pelo ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, com Severino. Pelo acerto, Albuquerque mudou a candidatura para o Conselho do Ministério Público e receberia os votos do PT. Em troca, a base aliada votaria unida em Renault para o Conselho de Justiça. Não funcionou.

”O resultado mostra que as bancadas não seguiram as orientações de seus líderes. Havia um pré-acordo que não foi cumprido”, afirmou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). ”O meu nome tinha mais viabilidade de ganhar do candidato do governo. Então houve a troca e isso se mostrou uma estratégia acertada”, afirmou Moraes, dando a entender que havia uma espécie de ”acordo paralelo” entre a oposição e Severino.

Renault procurou caracterizar sua derrota como algo ”normal”, sem conotação política. ”Faz parte. Era uma indicação da Câmara e a Câmara decidiu, democraticamente.’ Já Albuquerque disse que nem seu filho nem Severino influenciaram na decisão. ”Quando soube da vaga, enviei meu currículo para a Câmara. Como cidadão brasileiro, tenho o direito de concorrer a qualquer cargo na República, e foi assim que ocorreu.’