CRIME EM SOBRAL – Juiz afirma que não se lembra do fato Durou oito horas ininterruptas o interrogatório do juiz de Direito, Pedro Pecy Barbosa Araújo, 57 anos, ontem, no quartel do Comando-Geral do Corpo de Bombeiros Militar, no bairro Jacarecanga. Acusado de assassinar com um tiro de revólver o vigilante José Renato Coelho, o magistrado disse, na presença do desembargador Ernani Barreira Porto; da procuradora-geral da Justiça, Iracema do Valle; e dos advogados de defesa e acusação, que não “lembra o que aconteceu” depois de usar as duas mãos para tentar dominar a vítima, no interior do ‘Supermercado Lagoa’, em Sobral.

O crime, ocorrido em 27 de fevereiro último, teve repercussão nacional e internacional por ter sido filmado pelas câmeras do estabelecimento. Durante o interrogatório, Pecy Araújo se emocionou várias vezes e até chorou. Apesar de estar atravessando uma crise depressiva, ele respondeu a todas as perguntas. O depoimento ficou consignado em 11 laudas e seu teor foi mantido em sigilo por conta do ‘segredo de Justiça’.

DEMOROU – O interrogatório começou às 9h15min e terminou por volta de 17h30min. Os jornalistas tiveram autorização para entrar no quartel, mas não foi permitido o acesso ao gabinete improvisado onde ocorreu a sessão. Pecy depôs numa sala vizinha à cela especial onde está preso, há dois meses.

“Ele manteve, parcialmente, a versão inicial e contou que, a partir de sua tentativa para dominar a vítima, não se recorda mais de nada, não sabe o que aconteceu, disse que nem lembra de ter ouvido o estampido”, revelou Ernani Barreira, designado pelo TJ como relator do processo. Já o advogado de defesa, Josué de Souza Lima deu uma versão diferente. “Ele tem consciência do ato que praticou, só não lembra é da dinâmica dos fatos, como ocorreu o disparo. Disse também que sequer conhecia o rapaz, não era seu inimigo, não tinha razão para matá-lo”.Foi um depoimento bastante longo e que agora será confrontado com as provas testemunhais e periciais. “Não podemos tecer detalhes por conta do segredo de Justiça”, afirmou Paulo Quezado, também defensor do réu.

ACOMPANHOU – Do lado de fora da sala onde ocorria o interrogatório do juiz, esteve presente o diretor técnico-científico da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, médico Francisco José Ferreira Simão. Sua presença ali foi requisitada pelo desembargador para, no caso de ser alegado um novo problema de saúde – como insanidade mental – o paciente ser examinado por peritos do Estado, no caso, médicos do Instituto Médico Legal (IML) especializados em psiquiatria forense.

RAPIDEZ – Conforme o relator, caso os advogados de defesa alegassem que ele estaria acometido de insanidade mental, o processo sofreria paralisação. “Representaria uma tragédia para a marcha processual. Mas, isso não aconteceu. Agora, escancaramos as portas para trabalharmos o mais rápido possível. O Ministério Público também tem este interesse”.