Jefferson amplia denúncias; faltam provas Num depoimento contundente e rico em detalhes, mas não em provas, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, cumpriu ontem a ameaça de causar um terremoto político no Conselho de Ética da Câmara, acusando a cúpula do PT e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de comandarem um esquema de corrupção que vai do chamado ”mensalão” à formação de caixa dois para campanhas eleitorais de aliados.

Segundo o deputado, as campanhas de todos os partidos são financiadas da mesma maneira: com dinheiro de empresas privadas que têm contratos com empresas públicas. Ele recomendou que Dirceu renuncie, sob pena de arrastar consigo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E insistiu ter falado sobre a mesada dada aos deputados com seis ministros, incluindo o da Fazenda, Antonio Palocci, que nega ter tido conhecimento do assunto. Só depois de ele falar com Lula, no início deste ano, o ”mensalão” teria sido cortado.

O mais grave foi a denúncia de que o dinheiro usado para o aliciamento de parlamentares e partidos é público e chega aos destinatários por meio de empresas e agências de publicidade que mantêm contratos com o governo. Ele afirmou que o dinheiro para a campanha do PTB foi trazido pelo publicitário Marcos Valério, da agência mineira DNA, em malas com cédulas de R$ 50 e R$ 100 ”etiquetadas pelo Banco Rural e pelo Banco do Brasil”.

A negociação teria sido feita com o presidente do PT, José Genoino; o dinheiro, entregue por Delúbio Soares, tesoureiro do partido, e por Marcelo Sereno, secretário de Comunicação do PT e ex-assessor de Dirceu na Casa Civil. Genoino e Delúbio lhe teriam dito que ”a menor pedida foi a do PTB”, insinuando que outros partidos teriam recebido bem mais.

Dos R$ 20 milhões prometidos, apenas R$ 4 milhões teriam sido repassados, em duas parcelas. Jefferson disse então ter procurado Dirceu diversas vezes para cobrar o restante. O deputado contou ter dito ao ministro: ”Zé, está esgarçando, estou perdendo autoridade.’ Ao que Dirceu teria respondido: ”Roberto, a Polícia Federal é meio tucana. Botou em cana 62 doleiros agora, véspera de eleição. A turma que ajuda não está podendo internar dinheiro no Brasil.’

Exibindo enorme domínio de cena, Jefferson, que entre 1979 e 1985 atuou como ”advogado do povo” no programa O Povo na TV’, do SBT, deu um conselho ao ministro-chefe da Casa Civil: ”Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula. Rápido, sai daí rápido, Zé. Para você não fazer mal a um homem bom, correto, que eu tenho orgulho de ter apertado a mão.’

Invertendo os papéis de acusado para acusador, e colocando vários membros do Conselho na defensiva, Jefferson disse que a mesada do governo aos parlamentares da base aliada era recebida e distribuída pelos presidentes do PL e do PP, Valdemar Costa Neto (SP) e Pedro Corrêa (PE), respectivamente, e pelos deputados Bispo Rodrigues (PL-RJ), Sandro Mabel (PL-GO), Pedro Henry (PP-MS) e José Janene (PP-PR). Dirigindo-se a eles, Jefferson concluiu assim a primeira parte de seu depoimento de uma hora de duração, seguido das perguntas dos deputados: ”Me perdoem de coração, eu não gosto de ser cúmplice de vocês nessa história que envergonha uma grande parte da Câmara dos Deputados.’

Ressalvando que não eram todos os deputados do PL e do PP que recebiam mesada, Jefferson afirmou, no entanto, que todos os partidos têm suas campanhas financiadas por empresas privadas com contratos com estatais. ”Aqui todos sabem de onde vem o dinheiro da campanha: das empresas que na maioria das vezes mantêm relações com empresas públicas. Sempre foi assim. Todo mundo sabe de onde vêm os recursos. Precisamos abrir essa ferida.’