Crime Organizado – Confirmado convênio entre farmácia e entidade da PM Um convênio assinado em julho de 1996 entre a Empreendimentos Pague Menos Ltda. e a Associação de Oficiais Militares da Reserva e Reformados do Ceará (Aorece) está sendo usado como prova, pela Promotoria da 2ª Vara do Júri, de que a empresa recorreu a policiais militares para serviços de segurança particular, o que fere o Estatuto da Polícia Militar.
O documento foi anexado aos autos do processo judicial que apura, simultaneamente, a suposta existência de um grupo de extermínio formado por PMs cearenses e que teria matado ou ferido pessoas dentro da rede de farmácias. Ontem duas testemunhas de acusação prestaram depoimento sobre o caso. A primeira, uma mulher que levou um tiro de raspão. A segunda, um parente de uma vítima que morreu em 2002.
Apesar de congregar oficiais já afastados da Polícia Militar, a Associação teria recorrido a policiais da ativa para cumprir o contrato. Um soldado hoje lotado na 6ª Companhia do 5º Batalhão da PM, que prestou depoimento à Corregedoria Geral dos Órgãos de Segurança Pública no dia 30 de junho de 2005, admitiu ter trabalhado para a rede de farmácias durante oito meses por intermédio da Associação, no ano de 1997. Disse ter recebido para isso R$ 200,00, vales-transportes e cesta básica a cada mês. O PM contou ter sido ferido com dois tiros (na cabeça e no braço esquerdo) durante um assalto naquele ano, numa filial da avenida Bezerra de Menezes. Afirmou ter saído do serviço ”por estar correndo risco”.
Pelo contrato, que O POVO teve acesso, a entidade policial receberia ”vales-transportes e cesta básica de alimentação uma vez por mês para cada associado que executar suas tarefas neste convênio, bem como a importância de R$ 2,00 (dois reais) por hora/homem”. Dizia que o objetivo seria a ”observação velada”. À época, assinaram o documento o presidente do grupo Pague Menos, Francisco Deusmar de Queirós, e o coronel reformado da PM, José Israel Cintra. O oficial da reserva morreu em junho de 2004, vítima de câncer.
Deusmar Queirós confirma ter assinado o convênio. ”Foi feito, realmente. Acho um verdadeiro absurdo querer envolver a Associação com o suposto grupo de extermínio. O contrato era no sentido de eles comparecerem à Pague Menos desarmados para evitar a ação dos descuidistas, e não reagir a assaltos, armados, dar tiro em ninguém. Não lembro os valores, mas assinaria de novo”.
”(O convênio) Era com a Associação dos Oficiais da Reserva, não eram da ativa. Não tenho a menor idéia de quem a associação contratava. Se tinha gente da ativa, não era de nossa responsabilidade nem de nosso conhecimento. Por hipótese alguma eu soube disso”, ressalta o presidente da Pague Menos.
O POVO ligou para a Associação dos Oficiais da Reserva (Aorece), por volta das 18 horas de ontem, em três números de telefones disponíveis, mas ninguém atendeu às chamadas. A entidade não tem ligação com o comando da Polícia Militar, segundo o comandante-geral, coronel Deladier Feitosa.
O promotor de Justiça Pedro Olímpio, que faz a acusação no processo, não quis comentar o teor do documento que firma o convênio.