Após mudar versão, Vicente Ferreira não depõe e desaparece Vicente Ferreira, assessor do deputado José Guimarães, faltou ao depoimento na Comissão de Ética do PT e não foi encontrado pelo Ministério Público Federal, que tentou intimá-lo. A Procuradoria também não localizou a esposa de Adalberto Vieira e suspeita que os dois estejam fugindo da intimação
Daniella Cronemberger
Depois de mudar sua versão e envolver o ex-assessor do Banco do Nordeste (BNB) Kennedy Moura no caso da apreensão de dólares, José Vicente Ferreira desapareceu. O assessor parlamentar do deputado estadual José Guimarães (PT) não compareceu ontem para prestar depoimento na Comissão de Ética do PT e não foi encontrado pelo Ministério Público Federal para receber uma notificação. Durante todo o dia, ele não foi localizado na Assembléia Legislativa, onde trabalha, nem em sua residência.
É de Vicente o cheque que pagou a viagem de Adalberto Vieira da Silva, que também trabalhava no gabinete de Guimarães. Quando tentava retornar de São Paulo para Fortaleza, no dia 8, Adalberto foi preso com US$ 100 mil escondidos na cueca e mais R$ 200 mil na mala. Na última terça-feira, Vicente disse ao O POVO que não sabia da viagem de Adalberto a São Paulo; apenas teria emprestado o cheque ao amigo.
Um dia depois, porém, Vicente deu entrevista confirmando uma versão apresentada pelo deputado Guimarães: o dinheiro apreendido seria usado na abertura de uma empresa de locação de veículos, que está no nome do próprio Vicente e da esposa de Adalberto, Raimunda Lúcia Pessoa de Lima. Na entrevista à Rede Globo, Vicente disse que Adalberto viajou a pedido de Kennedy Moura.
Ontem, o Ministério Público Federal no Ceará, que abriu investigação para apurar o envolvimento de Kennedy Moura no caso, expediu duas notificações para Vicente e Raimunda Lúcia prestarem depoimento hoje à tarde, na Procuradoria. Nem um dos dois foi encontrado. ”Isso leva à suspeita de que eles estariam procurando impedir a notificação”, diz o procurador Márcio Torres, responsável pela investigação.
O Ministério Público fez várias tentativas para notificar Vicente e Raimunda Lúcia, segundo o procurador. Um assessor da Procuradoria foi mais de uma vez ao gabinete do deputado Guimarães, onde Vicente trabalha, sem sucesso. Na residência dele, na Maraponga, ninguém atendeu aos chamados da campainha, enquanto vizinhos de Vicente comentavam que ele estava em casa.
Já Raimunda Lúcia, que mora em Aracati, não é encontrada desde a prisão do marido em São Paulo. Ontem, o Ministério Público Federal chegou a pedir ajuda da promotoria de Justiça de Aracati, mas ninguém conseguiu localizar Lúcia, que é tesoureira do diretório do PT no município. ”É estranho. Aparentemente eles estão evitando a intimação. Mas vamos continuar tentando o tempo que for necessário”, disse Márcio Torres.
O procurador explica que, a partir da notificação, o intimado passa a ter obrigação de prestar depoimento. Se não comparecer, a Procuradoria pode requisitar força policial. ”Mas primeiro ele tem que ser intimado. Enquanto não for, ninguém tem obrigação de vir”, explica. Até o fim da próxima semana, os principais envolvidos no caso devem ser ouvidos pelo Ministério Público Federal.