Guimarães ganha tempo para apresentar defesa O deputado estadual José Nobre Guimarães (PT) terá de apresentar, por escrito, suas explicações para o episódio ”dólares na cueca” à Assembléia Legislativa nos primeiros cinco dias do próximo semestre legislativo, que começa no dia 1º de agosto. O prazo foi definido durante reunião da Mesa Diretora, realizada pela manhã. A decisão foi ratificada pelo Conselho de Ética da Casa, que também se reuniu à tarde para analisar o caso.
O pedido de adiamento para agosto foi feito pelo próprio Guimarães, sob o argumento de que o Regimento Interno da Assembléia estipula prazos apenas para o período ordinário. A partir dos esclarecimentos do deputado do PT, a Mesa decide se encaminha para a Ouvidoria do Conselho de Ética. Lá, o ouvidor Antônio Granja (PSB) emite parecer sobre o pedido de abertura de processo disciplinar contra o petista.
Guimarães era chefe do então dirigente petista no Ceará, Adalberto Vieira, na Assembléia Legislativa, quando este foi flagrado tentando embarcar de São Paulo para Fortaleza com mais de R$ 200 mil numa sacola e cerca de US$ 100 mil dólares escondidos na cueca.
Adalberto já apresentou três versões para a origem do dinheiro. Ontem, em entrevista ao O POVO, ele disse tê-lo conseguido com um amigo em São Paulo, cujo nome ainda é um mistério. Adalberto foi exonerado por Guimarães e pediu desfiliação do PT na última segunda-feira, 18.
Resultado de uma representação do PSDB, a reunião da Mesa Diretora durou mais de quatro horas. A reunião teve momentos de tensão. Apesar de ter sido feita a portas fechadas, foi possível se ouvir gritos entre alguns parlamentares, especialmente entre Osmar Baquit (PSDB) e Nelson Martins (PT).
De uma maneira geral, os parlamentares que participaram da primeira reunião (os sete da Mesa Diretora e outros seis) destacaram o interesse do petista em passar a história a limpo. ”O esclarecimento verbal deu uma demonstração de que o deputado quer a apuração dos fatos”, avaliou o presidente Marcos Cals (PSDB).
O presidente do Conselho de Ética, Marcos Tavares (PP), afirmou que vai aguardar mais elementos para que a comissão decida sobre os próximos encaminhamentos. A Assembléia vai pedir à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal cópias dos relatórios sobre o caso. O pedido foi reforçado por Baquit e por Artur Bruno (PT).
Já a terceira versão apresentada por Adalberto para a origem do dinheiro foi duramente criticada. ”Ninguém em sã consciência acredita naquelas explicações”, disse Marcos Cals. Segundo ele, o ex-petista deve estar protegendo alguém. ”É tão claro que (o dinheiro) não é lícito, que a cada dia ele inventa uma história diferente”, completou Baquit.
À tarde, em depoimento ao procurador da República, Márcio Torres, Adalberto Vieira não acrescentou praticamente nada de novo ao que já foi publicado. Apesar disso, o depoimento do ex-petista poderá servir para definir os próximos passos da investigação. Também foram ouvidos dois assessores de Guimarães, cujos nomes não foram divulgados.
A imprensa também não teve acesso ao conteúdo do depoimento que o ex-assessor de Guimarães, Vicente Ferreira, deu ontem à Comissão de Ética do PT. Para a próxima semana estão previstos os depoimentos de outro petista, o ex-assessor especial do Banco do Nordeste (BNB), Kennedy Moura, e do próprio Guimarães.