MPF ouve cúpula do BNB sobre financiamento A cúpula do Banco do Nordeste (BNB) foi ontem ao Ministério Público Federal (MPF) prestar esclarecimentos sobre o contrato de R$ 300 milhões para o consórcio Sistema de Transmissão Nordeste (STN). O financiamento está sendo investigado pelo MPF e a Polícia Federal (PF), que suspeita que tenha originado o dinheiro encontrado na mala e na cueca do ex-dirigente do PT, Adalberto Vieira.

Em três depoimentos cercados de segredos e tentativas de driblar a imprensa, o procurador Márcio Torres ouviu o presidente do BNB, Roberto Smith, o chefe de gabinete, Robério Gress, e o superintendente de grandes negócios, Cláudio Frota. Hoje é aguardado o depoimento do deputado José Guimarães (PT).

A principal linha de investigação indica que o dinheiro apreendido seria propina paga pela STN pela liberação do milionário empréstimo, possivelmente através do ex-assessor da presidência do banco, Kennedy Moura.

Durante quase seis horas, os três diretores do BNB detalharam a tramitação para a liberação de empréstimos. Márcio Torres reconheceu a segurança dos procedimentos, mas ressaltou que o modelo não é infalível. ”O sistema é rigoroso, em princípio. Pelas etapas que estão previstas, é um sistema bastante rigoroso. Mas obviamente nada é 100% seguro”.

Único dos depoentes a falar com a imprensa, Robério Gress, que assumiu a chefia de gabinete da presidência em dezembro do ano passado, quando Kennedy deixou o cargo e virou assessor especial do banco, disse duvidar que possa ter havido alguma irregularidade no financiamento para a STN.

”Sou funcionário do banco há 22 anos e tenho certeza que isso não tem ligação com o BNB. Não existe irregularidade no contrato da STN. Os contratos estão aí a disposição para serem auditados e eu tenho quase que certeza que não existe nenhuma irregularidade. Por sinal, uma operação muito importante para o desenvolvimento da região”, disse, defendendo o financiamento de R$ 300 milhões para a construção de duas linhas de transmissão de energia elétrica ligando o Piauí ao Ceará, obra num valor global de R$ 409 milhões. Tanto Gress quanto Smith já foram ouvidos também pela Polícia Federal.

Apesar da segurança da operação, os procuradores afirmaram acreditar que a tese que propina pelo contrato de financiamento à STN está se confirmando, sobretudo pelo cruzamento dos extratos bancários e telefônicos de Kennedy e Adalberto. Os dados telefônicos chegaram ontem ao MPF. ”Os vínculos que temos ligando o STN ao Kennedy permanecem”, disse Torres. ”O que esperávamos está se confirmando pelos dados que já temos”, afirmou o procurador Alexandre Meireles.

Ao final do depoimento, Roberto Smith tentou driblar os jornalistas e saiu pelo subsolo do prédio. O POVO chegou a conversar com o presidente já dentro do veículo. Ele disse que não iria comentar o depoimento, mas afirmou não acreditar que a imagem do banco esteja sendo exposta de forma negativa no episódio.