Remessa ilegal pagou campanha de Lula Brasília – Os depoimentos prestados à Polícia Federal pelo publicitário Duda Mendonça e por sua sócia Zilmar Silveira e documentos entregues por ele à CPI dos Correios revelaram que despesas das campanhas eleitorais do PT em 2002, incluindo as do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram pagas mediante remessas ilegais de dinheiro para o paraíso fiscal das Ilhas Bahamas.
O publicitário informou ter criado a empresa offshore ‘‘Dusseldorf Company Ltd’’., também com sede nas Bahamas, com o único objetivo de receber, em remessas efetuadas em 2003, a quitação das dívidas do PT. Cerca de R$ 10,5 milhões chegaram à conta de número 0010012877 da Dusseldorf no BankBoston.
O valor corresponde a uma parte da dívida contraída em 2002. Segundo Duda, esse valor ainda hoje permanece ‘‘à disposição de um trust vinculado’’ ao BankBoston sediado em Miami, na Flórida (EUA). Offshore e trust são empresas de papel cujos verdadeiros donos têm sua identidade preservada pelo sigilo.
Duda disse à PF que abriu a offshore nas Bahamas sob orientação do ‘‘banco Boston Internacional’’. Ele não revelou se possui outros sócios na mesma empresa. Os detalhes da operação ainda não estão totalmente claros.
A hipótese principal é que o dinheiro, sacado em diferentes datas das contas das empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, sob orientação do ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares, tenha sido entregue a um doleiro de Belo Horizonte (MG). Os policiais civis de Minas David Rodrigues Alves e Luiz Lara aparecem como sacadores de mais de R$ 6 milhões.
O doleiro, que se encarregaria de enviar o dinheiro para o exterior de forma discreta e ilegal, sem associá-lo a Duda Mendonça e a Marcos Valério, seria Jader Kalid Antônio. Há registros de que esses policiais já trabalharam para o doleiro. Cópias de dois faxes entregues por Duda à CPI registram operações de remessas informadas por uma pessoa de prenome ‘‘Jader’’ à ‘‘Geiza’’ -supostamente Geiza Dias, funcionária de Marcos Valério.
Num documento que, segundo Duda, foi produzido por uma empresa de Valério aparece a menção a terceiras pessoas no trabalho de remessas. ‘‘Os valores que estão apontados como ‘‘faltando’’ estão sendo verificados pelo Agenciador remetente’’, diz o documento.
No caminho até as Bahamas, teriam sido usadas outras empresas de papel que detêm contas bancárias nos Estados Unidos. Uma delas foi a Trade Link Bank, offshore sediada nas Ilhas Cayman e associada ao Banco Rural durante as investigações da CPI do Banestado. O dinheiro também teria partido de contas bancárias abertas num braço do Banco Rural em Portugal e o Israel Discount Bank de Nova York (EUA).
A forma pela qual Duda Mendonça contabilizou o dinheiro que chegou às Bahamas é toda ilegal, segundo ele próprio admitiu à PF. ‘‘Quanto ao pagamento efetuado no exterior, não foram emitidas notas fiscais’’, afirmou Duda Mendonça, no depoimento à PF de Salvador (BA). Os parlamentares de oposição na CPI dos Correios desde hoje trabalham para tentar ter acesso às movimentações financeiras da Dusseldorf. O caminho natural da investigação será convencer as autoridades de Bahamas a quebrar o sigilo bancário da empresa, para identificar a origem do dinheiro. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pediu, durante o depoimento de Duda, que ele tomasse a iniciativa de autorizar a quebra do sigilo, mas o publicitário alegou que seria necessário obter consentimento de outros supostos sócios ou diretores na Dusseldorf -cujos nomes não revelou.