Jefferson na mira do Conselho O destino político do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) começa a ser desenhado hoje à noite na reunião do Conselho de Ética e Decoro da Câmara. Na pauta estão previstas a leitura, discussão e votação do parecer sobre o pedido de cassação do petebista que responde a basicamente quatro acusações. Apesar da cautela para não antecipar seu voto, o relator do processo, deputado Jairo Caneiro (PFL-BA), dá sinais de que apresentará voto favorável à anulação do mandato de Jefferson. De acordo com relatório de 42 páginas, entregue na última quinta-feira aos membros da comissão, Carneiro aponta que o parlamentar denunciou, sem provas, o suposto pagamento de mensalão a deputados da base aliada; mentiu em depoimento; admitiu ter recebido R$ 4 milhões para campanhas eleitorais do empresário Marcos Valério e confessou a prática de tráfico de influência ao fazer indicações para empresas estatais visando o enriquecimento do caixa de seu partido.

“Me dediquei nos últimos 15 dias à análise dos fatos e ao cruzamento de informações. Estou com a consciência tranqüila, não fui pressionado e tenho certeza de que a sociedade espera uma resposta coerente para tudo o que está acontecendo”, comenta Jairo Carneiro.

De acordo com as regras do Conselho de Ética, a sessão será aberta pelo presidente Ricardo Izar (PTB-SP), que passará a palavra para Carneiro fazer a leitura do relatório. Jefferson terá 20 minutos, prorrogáveis por mais dez, para a defesa. Em seguida, o relator apresenta seu voto e inicia-se a discussão. E é aí que entrará em ação o deputado Nelson Marchezelli (PTB-SP). O correligionário de Jefferson já adiantou que pedirá vistas, o que adiará, por duas sessões, a apreciação do voto do relator.

Manobra

O petebista no entanto, jura que esse recurso não é uma manobra para Roberto Jefferson ganhar tempo. Apesar das especulações, Marchezelli diz que não foi escalado pelo colega para essa missão. Ao contrário, alega que é precipitado o julgamento do correligionário pelo Conselho de Ética, diz que as denúncias feitas por Jefferson vêm se confirmando nas CPIs dos Correios e do Mensalão e critica o tempo escasso para a defesa do colega. Com o pedido de vistas, os membros da comissão só votarão o parecer do relator na próxima quinta-feira.

“Regimentalmente, tenho o direito de analisar com mais calma o processo. E quem sabe até a quinta-feira, quando retomaremos a sessão, aparecem novos fatos que mostrem a razão de Jefferson em tudo o que ele disse? Acho, inclusive, que o Conselho só deveria analisar esse processo contra ele depois de finalizadas as investigações das CPIs. Se o problema maior for o dinheiro recebido do PT, ele pode ter como provar em qual circunstância foi feita a transação ”, comenta Marchezelli.

Depois de 18 encontros, alguns membros do Conselho dizem abertamente que há provas suficientes da quebra de decoro de Jefferson. Mas, segundo eles, a mais pesada delas é que faz referência ao episódio de recebimento de dinheiro não contabilizado para campanhas municipais ano passado. “Esse argumento de que o esquema de mensalão era verdadeiro não existe. Além do mais, o acusado não conseguiu dizer de onde veio e para onde foi o dinheiro doado a ele pelo PT. Dizem que Jefferson pode aparecer com recibos para tentar se livrar, de última hora, mas não acredito nessa possibilidade”, comenta o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Depois de aprovado, o voto do relator é encaminhado à mesa da Câmara que deverá colocar a matéria em votação no plenário nas próximas sessões.