Doleiro depõe e agrava a situação dos Maluf A situação do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e seu filho Flávio, presos desde o dia 10, foi agravada ontem. O doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, que além de réu é considerado a principal testemunha do Ministério Público Federal contra os Maluf, confirmou todo o esquema ilegal na operação de depósito dos US$ 161 milhões no Safra National Bank de No-va York. Alves assumiu que era o administrador dos recur-sos, cuja fonte seriam propi-nas recebidas por Maluf da empreiteira Mendes Júnior, quando ele era prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996.

– Eu administrei os US$ 161 milhões da família Maluf. Essa é a verdade – disse o doleiro, logo depois de prestar depoi-mento por cerca de quatro ho-ras ao juiz federal Paulo Alber-to Sarno, na 251 Vara Criminal Federal. – A conta está em meu nome, só que o dinheiro era dele (Maluf). De acordo com os advoga-dos do doleiro, ele confirmou todas as informações que já ti-nha dado ao Ministério Públi-co Federal contra os Maluf, in-clusive sobre as subcontas da Chanani, a conta principal operada por ele no Safra Na-tional Bank.

O doleiro só teria se recusa-do a responder às perguntas feitas pelos advogados de de-fesa de Maluf, que teriam ten-tado desqualificar seu depoi-mento. A defesa de Maluf tem alegado que o doleiro tentou chantagear os Maluf e depois foi “presenteado” pelo delega-do federal Protógenes Queiroz para delatar os Maluf.

Doleiro garantiu que não sofre ameaças

O doleiro disse que está tranqüilo e aliviado por ter prestado o depoimento. Ele afirmou ainda que não sofre nenhuma ameaça e manterá todas as suas declarações. Alves poderá ser beneficiado pelo critério de delação premiada, já pedida pelo MPF e que será analisado ao final do pro-cesso pelo juiz. Um dos advogados do doleiro, Gontran Guanaes Simões, esclareceu o que Alves quis dizer numa fita gravada em que ele conversa com outro doleiro. A defesa alega que o delegado da Polícia Fe-deral Protógenes Queiroz, iria lhe dar um presente ao fi-nal do inquérito. Segundo o advogado, o presente seria a delação premiada, com redu-ção de pena ao doleiro em troca das informações.

O advogado desmentiu que o delegado da PF tivesse lhe prometido impunidade no mercado de cãmbio negro em São Paulo em troca de descre-ver o que sabia sobre as mo-vimentações financeiras de Maluf no exterior.

-Meu cliente tem cadastro no Banco Central. Ele tem par-ticipação em uma corretora de títulos autorizada pelo BC. Ele trabalha legalmente no merca-do. O presente a que meu cliente se refere no grampo gravado pela PF é a delação premiada- disse.

Procurador: depoimento dos Maluf não mudou situação Ontem à noite a Justiça Fe-deral também ouviu o depoi-mento de Simeão Damasceno de Oliveira, da empreiteira Mendes Junior. Ele havia fala-do à polícia que o dinheiro que Maluf tem no exterior foi oriundo do superfaturamento de obras importantes de São Paulo feitas pela Mendes Junior, como o Túnel Ayrton Sen-na e a avenida Agua Espraiada. Mas houve momentos em que Simeão recuou e negou as acu-sações. Embora o Ministério Público tenha oferecido a Si-meão também os benefícios da delação premiada, seu ad-vogado Francisco Lobo da Costa Ruiz reagiu indignado.

– Propuseram para ele (ser) um cagüetão, mas isso não é jurídico e não vamos aceitar -disse Lobo. O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Rodrigo De Grandis, um dos responsáveis pelo processo contra os Maluf, afirmou que os depoimentos de Paulo e Flávio Maluf, que demoraram sete horas e meia na 22 Vara Federal Criminal, anteontem, não mudaram o processo contra eles.

– O que eles disseram e o que foi apresentado por seus advogados não modifica em nada o processo contra os dois. Não houve a apresenta-ção de nenhum fato que melhore a situação dos dois.