PF também investiga empresas lagosteiras A investigação sobre supostas irregularidades envolvendo empresas lagosteiras, como apontou O POVO na edição de ontem, não envolve apenas o caso do contrabando de lagosta miúda.

Na Polícia Federal, o delegado Tomas Vlazac, do Núcleo de Repressão aos Crimes Financeiros, diz que no momento estão sendo investigadas seis empresas do ramo diante da possibilidade de evasão fiscal e lavagem de dinheiro.

Ele declara que em uma das seis já estaria comprovada a irregularidade, que seria a Compescal. Tomas Vlazac informa que a investigação está na fase de elaboração de relatório para ser enviado para a Procuradoria da República no Ceará. ”A perícia já foi realizada e está confirmado”, diz.

O diretor da Compescal, Vicente de Paula Barros, porém, nega que haja qualquer irregularidade nas finanças da empresa e credita a investigação realizada pela PF na empresa, a acusações infundadas feitas por um ex-funcionário seu.

O delegado pede para não citar os nomes das outras cinco empresas, por não ter comprovado a irregularidade. O delegado alerta que mandar dinheiro para fora não compensa porque o investimento lá fora tem rendimento muito baixo. ”Aqui seria melhor para remuneração do capital”, afirma. ”Quando mandam para fora é porque tem alguma ilegalidade na arrecadação desse dinheiro. É isso que na maioria dos casos justifica o envio de dinheiro para o Exterior”.

O esquema, segundo Vlazac, funciona da seguinte forma: o dinheiro é enviado ao Exterior e retorna para o Brasil através da abertura de uma empresa daqui com sócios estrangeiros. O montante entraria como investimento de empresários do Exterior. Então, diz ele, abre-se uma empresa no Brasil com sócios estrangeiros e a verba é transferida para cá. ”A fiscalização do dinheiro pelo Banco Central é mais rigorosa na saída. Na entrada é mais leve”.

Mas as investigações sobre lavagem de dinheiro realizada em empresas do setor não se restringem à Polícia Federal. Segundo O POVO informou, entre junho e julho desse ano, de acordo com relatório confidencial do Ministério Público Estadual (MPE), o empresário Cláudio Kmentt, morto em dezembro de 2004, ”tinha uma conta no Exterior com valores em torno de US$ 6 milhões que correspondiam ao dinheiro que desviava do grupo ilegal que representava”.

O dinheiro seria oriundo de um suposto pacto, fechado com outros quatro empresários da lagosta, de silêncio e divisão de lucros no contrabando de lagosta miúda para o Exterior. Segundo o Ministério Público e a Polícia Civil, Cláudio quis quebrar o acordo ilegal e ficar para si com todo o lucro do negócio, sem dividi-lo com os sócios. A decisão ”teria sido a causa de sua morte”, diz mais um trecho do relatório sigiloso.

A investigação é feita pelo MPE em conjunto com a Corregedoria Geral dos Órgãos de Segurança Pública, após avocação do inquérito (tomar a responsabilidade do caso) pelo secretário da Segurança Pública à época, Wilson Nascimento. Os promotores à frente da apuração estão impedidos de falar publicamente sobre o assunto, por ordem do Conselho Superior do Ministério Público. O delegado corregedor também alega segredo de justiça para não se pronunciar.

No dia 30 de junho, a presidente do Sindicato da Indústria de Frios e Pesca do Ceará (Sindifrios), Elisa Gradvohl Bezerra, 62, confirmou ao O POVO que empresários comercializavam lagosta abaixo do tamanho permitido (miúda). Ela diz ainda que um grupo de cinco lagosteiros chegou a assinar um pacto para que não houvesse denúncias entre eles.