Armas roubadas de militares vão para o tráfico Armas e munição desviadas das Forças Armadas alimentam parte do mercado da violência no país e chegam às quadrilhas de traficantes de drogas. Os dados oficiais de Exército, Marinha e Aeronáutica indicam que, nos últimos cinco anos, pelo menos 277 pistolas, fuzis e submetralhadoras foram desviados de quartéis das três forças. Só 163 armas, 58,84% do total, foram recuperadas. Outras 114 armas podem estar em mãos de criminosos.
Oficiais do Exército reconhecem que o roubo de armas é um crime grave, mas consideram o problema pequeno diante do universo de mais de 347 mil militares em atividade no país. Ainda segundo o Exército, entre os principais responsáveis pelos roubos estão militares e ex-militares de baixa patente que, depois de sete anos nos quartéis, sem conseguir ascensão profissional, abandonam a carreira.
Em julho de 2004, quando o soldado Ivison Bastos do Santos furtou um fuzil do Batalhão Escola de Engenharia para vender ao traficante Patrick Henriques Chimenes, acusado de ser o gerente do tráfico da favela de Antares, em Santa Cruz. O soldado foi preso. Quando negociava o fuzil, o traficante soube pela Polícia Militar que o Exército ocuparia a favela até recuperar a arma. Patrick se desfez do fuzil e informou às autoridades onde a deixaria.
Segundo levantamento do Ministério Público Militar, o recordista em desvios de armamento no Rio é o Parque de Material Bélico da Aeronáutica (Pamb). Em cinco anos, a Aeronáutica registrou 75 casos, sendo 69 no Pamb, de onde teriam saído, segundo a Polícia Civil, as 161 granadas encontradas em 2004 num paiol de traficantes na Favela da Coréia (Zona Oeste).
Durante a Operação Navalha na Carne, em julho passado, a Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis do Rio descobriu que o policial Hélio Scielzo Brunet, lotado na Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos da Polícia Civil, desviava munição da delegacia, responsável pela guarda de cerca de 500 mil armas apreendidas no estado. Pelo menos 10 mil tipos de munição foram retirados da unidade e vendidas a traficantes. Entre os compradores estava Luiz Carlos da Rocha Neto, o Berola, chefe do tráfico do Morro do Turano, no Rio Comprido. — Foi o maior caso de desvio na polícia. Se aprovado o referendo, os fabricantes de munição serão obrigadas a identificar com algum sinal a munição vendida para as Forças Armadas e as polícias. Será mais fácil, numa apreensão, descobrir de que unidade foi desviada a munição — diz Carlos de Oliveira, titular da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE).
O mais baixo percentual de recuperação de armas é da Aeronáutica: só 38 das 128 armas roubadas entre 2000 e 2004 foram retomadas. A Marinha recuperou 22 das 61 armas extraviadas. O melhor desempenho coube ao Exército, que resgatou 103 armas nos últimos cinco anos, 15 a mais que as 88 desaparecidas. “Algumas das armas recuperadas foram extraviadas em anos anteriores a 2000, o que explica o número maior de armas recuperadas em relação ao número de armas roubadas ou furtadas”, explica em nota o Centro de Comunicação Social do Exército. O comando do Exército mandou abrir 21 inquéritos desde 2000; 29 militares foram indiciados e quatro presos por envolvimento com os desvios.