Dinheiro público alimentou “mensalão” do PT, afirma CPI

A CPI dos Correios identificou pela primeira vez o uso de dinheiro público, oriundo do Banco do Brasil, no esquema do “mensalão”, pelo qual o publicitário Marcos Valério alimentou o PT e parte da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A descoberta joga por terra a versão que vinha sendo sustentada pelo Palácio do Planalto, por petistas e por aliados do governo. Todos diziam que o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares havia recebido dinheiro de empréstimos contraídos por Valério, que teria sido repassado a parlamentares e pessoas com quem o PT tinha dívidas de campanha.

A revelação confirma um ponto central do que disse em 12 de junho, em sua segunda entrevista à Folha, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Segundo ele, o dinheiro que irrigava o esquema do “mensalão” vinha de “operações com empresas do governo e com empresas privadas”, que chegavam a Brasília por meio de Valério, revelando o nome do suposto operador do esquema, o então sócio das agências DNA e SMPB.

Ontem, o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), revelou ter descoberto pelo menos uma empresa que contribuiu para o esquema: a operadora de cartão de crédito Visanet -que tem como um dos sócios o BB, de quem teria partido o dinheiro para a agência DNA. O banco afirmou que “não compactua e condena” eventuais desvios que possam ter ocorrido. Em entrevista ao UOL News, o senador Delcídio Amaral, presidente da CPI, disse que a tese dos empréstimos para caixa dois “absolutamente não se sustenta”. Segundo a Folha apurou, a revelação de que dinheiro público pode ter abastecido o “valerioduto” teria deixado o presidente Lula surpreso e preocupado.

Se confirmadas as informações divulgadas pela CPI, os envolvidos no esquema poderão ser enquadrados na Lei do Colarinho Branco (7.492/86), por crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. O artigo 19 dessa legislação prevê como pena reclusão de dois a seis anos (além de multa) aos envolvidos em empréstimo financeiro obtido por meio de fraude.