Justiça e MP resistem a controle externo e lutam pelo nepotismo

Organizados há cinco meses para fazer o controle externo dos tribunais, os Conselhos Nacionais de Justiça (CNJ) e do Ministério Público (CNMP) enfrentam resistência corporativa. Setores da magistratura e do Ministério Público estão rebelados contra a mais importante resolução dos conselhos: a de que sejam demitidos parentes de autoridades que não são concursados e ocupam cargos de confiança na máquina judicial.

A resistência é que tamanha que ameaça esvaziar os conselhos, encarregados de melhorar a qualidade dos serviços judiciários e punir autoridades envolvidas em irregularidades. Até agora, o Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu três ações contestando a resolução do CNJ contra o nepotismo. A mais ampla delas é movida pela Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (Anamages). A ação mais recente, aberta na semana passada, é a do técnico judiciário Clésio Monteiro Alves, que assessora o pai, José Alves Neto, desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe.

O que se pede é a declaração da inconstitucionalidade da resolução, com o argumento de que o CNJ não tem poderes para fazer determinações desse tipo. A interpretação dos insatisfeitos é de que decisões assim só podem ser tomadas pelo Congresso. ‘Compete tão somente ao CNJ a fiscalização dos atos administrativos do Poder Judiciário, e nunca a atividade legislativa’, diz o mandado de segurança apresentado por Clésio.

A expectativa nos tribunais é de que recorram ao STF outros servidores agindo em caráter individual, e também entidades que representam setores da Justiça. Numa estimativa preliminar, calcula-se que o cumprimento da resolução exigiria a demissão de pelo menos mil parentes de autoridades judiciais. A pressão contra a medida é tão grande que o CNJ vai se reunir amanhã para rediscutir o assunto. Isso porque o Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça pediu esclarecimento sobre alguns itens da resolução.

Um dos pontos questionados é o grau de parentesco estabelecido pela resolução. A determinação do CNJ é de que sejam afastados dos tribunais até mesmo tios e sobrinhos de autoridades. Mas mesmo entre os defensores da medida há quem avalie que a proibição só deva valer para parentes diretos, como filhos e irmãos.

CORTE DE SALÁRIOS

Fortes reações também são esperadas contra outra decisão que deverá ser tomada em breve pelo CNJ: o corte dos supersalários do Judiciário. Os conselheiros pretendem ordenar que os tribunais ajustem os vencimentos a um teto equivalente ao que recebem os ministros do STF, atualmente R$ 21,5 mil. Essa quantia será reajustada em janeiro para R$ 24,5 mil, conforme prevê uma lei aprovada pelo Congresso.

O CNJ terá de debater se entrarão no cálculo do teto complementos recebidos por alguns juízes e procuradores, como o auxílio-moradia. Também deverá ser decidido se os juízes que dão aula em universidade pública podem ganhar normalmente por essa atividade ou se tais rendimentos também sofrerão corte caso a soma total dos vencimentos supere o teto.

Para preparar a discussão, o CNJ consultou todos os tribunais e associações representativas de magistrados, pedindo informações sobre a composição e o valor dos salários dos juízes. O conselho quer saber, por exemplo, o que é pago além do subsídio básico e se, na opinião dos órgãos, tais quantias podem continuar a ser recebidas após a fixação do teto salarial do funcionalismo público. O prazo para a apresentação das respostas ao CNJ vence no dia 30.