Expectativa na Câmara
Helayne Boaventura
Da equipe do Correio
A Câmara aguarda com expectativa a decisão amanhã do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP). Os parlamentares esperam que os ministros adotem uma solução intermediária, que evite uma forte interferência no Legislativo e permita a votação amanhã no plenário da Casa do processo contra o petista. O relator da representação, Júlio Delgado (PSB-MG), até já preparou uma nova versão do parecer, na esperança de que a decisão do Judiciário seja favorável.
Delgado retirou três páginas do texto, aprovado no Conselho de Ética com 13 votos a favor e um contra, com referências ao depoimento da presidente do Banco Rural, Kátia Rabello. No relatório, o deputado reproduzia questionamento feito pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) sobre o aumento do volume de investimentos dos fundos de pensão no Banco Rural. O parecer também citava trecho em que a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) perguntava à Kátia Rabello sobre as dificuldades de acesso a Dirceu. A empresária respondeu que era difícil falar com o então chefe da Casa Civil e que Marcos Valério foi quem facilitou os encontros. “Já está tudo prontinho. É só eles mandarem retirar o depoimento, que apresento o relatório”, avisa o relator. “Temos de resolver logo esse assunto. Já está ficando chato, enfadonho, enjoativo. Tá dando ânsia de vômito.”
Haverá uma sessão do STF para que o ministro Sepúlveda Pertence apresente seu voto sobre recurso de Dirceu contra o processo de cassação. O ex-chefe da Casa Civil argumenta que teve o direito cerceado porque as testemunhas de defesa foram ouvidas antes das de acusação. Em julgamento na semana passada, o tribunal se dividiu: 5 ministros ficaram contra o petista, 4 sugeriram refazer o depoimento das testemunhas de defesa e o ministro Cézar Peluso propôs apenas retirar o depoimento de Kátia Rabello do pedido de cassação. É a solução apresentada por Peluso que os deputados preferem.
Às vésperas da decisão, pressões sobre os integrantes do Supremo têm sido intensas. O advogado José Luís Oliveira Lima, defensor de Dirceu, entregou ontem aos 11 ministros um memorial sobre o processo, na visão da defesa. “Foi para ratificar os argumentos. Não podemos baixar a guarda”, justificou o advogado. Na sexta-feira, os integrantes do Conselho de Ética também enviaram um memorial aos ministros. Hoje, o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), irá se encontrar com o presidente do STF, Nelson Jobim, para discutir o assunto.