Dirceu cassado Felipe Recondo
da Folhapress
O plenário da Câmara dos Deputados cassou ontem o mandato do deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil e um dos principais responsáveis pela campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Dirceu, que era considerado o ”homem forte do governo” até ser demitido, teve 293 votos favoráveis à sua cassação, 192 contrários, contabilizando-se ainda 8 abstenções, um voto nulo e outro branco.
José Dirceu foi tido, quando chefe da Casa Civil, como o responsável por gerir o rolo compressor no Congresso Nacional para aprovar projetos de interesse do Executivo. Ele deixou a Câmara ontem antes de iniciada a contagem dos votos, antes de perder seu mandato. A votação foi secreta, começou às 21h56min, com uso de cédulas depositadas em duas urnas. O processo de votação começou depois dos discursos de acusação, feito pelo relator do pedido de cassação no Conselho de Ética, Júlio Delgado (PPS-MG), e de defesa pelo próprio Dirceu.
Enquanto os deputados se dirigiam às urnas, Dirceu conversava com aliados e demonstrava tranqüilidade. Na terça-feira, ele dizia que estava preparado para a votação, mas contava com uma decisão a seu favor no STF (Supremo Tribunal Federal) na análise do mandato de segurança que pedia a suspensão do processo e a retomada dos depoimentos de testemunhas de defesa no Conselho de Ética.
Os ministros do STF, porém, frustraram as expectativas do deputado, mesmo com a concessão de liminar que determinava a retirada do relatório final do depoimento da testemunha de acusação Kátia Rabello, presidente do Banco Rural, e de todas as citações dela no parecer do relator do processo contra o deputado. A decisão do Supremo, confirmada ontem com o voto do ministro Sepúlveda Pertence, garantiu a manutenção da sessão destinada a votar o processo.
Até o último minuto, o advogado de Dirceu, José Luiz Silva, tentou saídas para adiar a votação. Depois da decisão do STF, pediu à Mesa Diretora da Câmara prazo para que o texto, sem o depoimento da testemunha de acusação, fosse impresso. No entanto, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), negou o pedido e garantiu a votação após três adiamentos consecutivos por conta de decisões jurídicas.
Dirceu já avisava em seu discurso e em entrevistas antes de iniciado o julgamento que continuaria no PT, na vida política e manteria sua defesa ao governo Lula. Mas o ex-deputado só poderá disputar a eleição em 2016, já que perde os direitos políticos por oito anos depois de concluída esta legislatura.
Dirceu foi o segundo deputado cassado desde o início da crise política. Em setembro, o plenário da Câmara decidiu, por 313 votos a 156, cassar o mandato de Roberto Jefferson, autor das primeiras denúncias sobre o suposto esquema do ”mensalão”. Jefferson foi também o responsável pelo início da derrocada de Dirceu. Depois de revelar a existência do suposto mensalão, Jefferson focou as acusações no então ministro José Dirceu.
Foi depois de um depoimento prestado por Jefferson que Dirceu anunciou que estava deixando o Palácio do Planalto, onde centralizou decisões e discussões sobre os projetos mais importantes do governo, sendo substituído pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.
José Dirceu voltou à Câmara consciente, de acordo com aliados, de que seria processado por quebra de decoro. No seu retorno, fez um discurso de defesa do governo Lula, mas foi confrontado com declarações ríspidas da oposição. Depois, a partir do dia 10 de agosto, teve de ocupar seu tempo em responder ao processo de autoria do PTB, partido de Jefferson, no Conselho de Ética da Casa.