Juraci é processado por superfaturamento

O ex-prefeito Juraci Magalhães foi incluído como réu em processo por fraude de licitação e superfaturamento na compra de medicamentos para a Prefeitura de Fortaleza. A ação tramita desde 2001 e acusa a então secretária de Desenvolvimento Social, Rosemary Maciel, pela compra de medicamentos sem licitação de forma supostamente irregular e com preços 49,32% acima dos valores de mercado. Como tinha foro privilegiado, Juraci só podia ser julgado no Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª região, em Recife. Agora, o ex-prefeito passa a ser um dos acusados na ação na primeira instância, sem direito a julgamento em foro especial.

O caso veio à tona após matéria divulgada com exclusividade pelo O POVO, em 3 de maio de 2000, que apontava indícios de favorecimento e superfaturamento em benefício de empresas fornecedoras da Prefeitura. As compras chegariam a R$ 652,75 mil, 49,32% a mais que o valor de mercado estimado à época pela secretaria do Tribunal de Contas da União (TCU) no Ceará.

Quando a denúncia foi apresentada, o juiz Augustino Lima Chaves considerou que o caso deveria ser apreciado em Recife. O Ministério Público recorreu e pediu o retorno da ação à primeira instância, o que foi acatado.

Em setembro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional dispositivo, aprovado nos últimos dias do governo Fernando Henrique Cardoso, que garantia foro privilegiado para ex-autoridades. Assim, a Procuradoria da República no Ceará deu entrada em ação não apenas contra Rosemary, mas também contra Juraci. O procurador Meton Vieira apresentou a denúncia na última quinta-feira, 1. O caso tramita na 12ª vara federal no Ceará, em segredo de Justiça.

A investigação das dispensas de licitação na compra de medicamentos da Prefeitura foi deflagrada após denúncia feita pelo O POVO em 2000. A matéria expõe as relações familiares entre as empresas que forneciam para o Município. Das cinco empresas fornecedoras, três seriam de propriedade de pessoas da mesma família.

A reportagem comparou os preços dos medicamentos comprados pelas prefeituras de Fortaleza e Sobral, e mostrou que a gestão Juraci pagou até 270% a mais. Na média, a Prefeitura da capital gastou 97% a mais do que o valor de mercado. As dispensas de licitação foram feitas apesar de a concorrência pública estar em pleno andamento desde setembro de 1999.

O POVO tentou contato com Juraci Magalhães na tarde de sábado e de domingo, mas o telefone residencial do ex-prefeito estava mudo. O número é o único no nome de Juraci que consta no cadastro da Telemar. Também foi tentado contato com o advogado responsável pelo caso em Recife, Urbano Vitalino Filho, mas os números disponíveis no informador telefônico não atenderam as ligações.

Investigação foi engavetada na Câmara Municipal

Antes do Ministério Público entrar com processo contra o ex-prefeito Juraci Magalhães e a ex-secretária de Desenvolvimento Social, Rosemary Maciel, a Câmara Municipal fez duas tentativas frustradas de investigar o caso.

No dia 4 de maio de 2000, um dia após a denúncia ser feita pelo O POVO, o então vereador e hoje secretário da Regional VI, Paulo Mindêllo (à época no PPS, hoje PSB), denunciou que as compras eram direcionadas para empresas previamente escolhidas. O então vereador e hoje deputado Heitor Férrer (PDT) iniciou a coleta de assinaturas para abrir a CPI dos medicamentos. O pedido foi protocolado três dias após a reportagem. Uma semana depois, o requerimento foi arquivado pelo presidente da Câmara, José Maria Couto (PMDB), que alegou ”vícios formais”.

Dois dias após o arquivamento, a oposição apresentou novo pedido de CPI, que voltou a ser arquivado por Couto, que apresentou como justificativa um parecer da coordenadoria jurídica da Câmara, que considerou a matéria ”regimentalmente vencida”.

Com o fracasso da tentativa de investigar o caso na Câmara, Heitor Férrer enviou a denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU). Após auditoria do TCU, o MPF entrou com o processo. Após cinco anos e idas e vindas entre as instâncias, o caso pode agora começar a ser julgado.