Prefeita é julgada e três testemunhas acabam presas Três pessoas presas e uma quarta sob custódia da Polícia Federal é o saldo até agora do julgamento contra a prefeita de São Luís do Curu, Marinez Rodrigues de Oliveira (PL), que começou na segunda-feira. Ela é acusada pelo Ministério Público da cidade, que fica a 81 quilômetros de Fortaleza, de ter “doado” lotes de terra de sua propriedade em troca de votos nas eleições de 2004.

No total, teriam sido distribuídos cerca de 20 lotes. Se condenada, Marinez pode perder o mandato. Qualquer que seja a posição da Justiça eleitoral, que acompanha o caso em primeira instância, cabe recurso ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Uma das testemunhas detidas, Benedita de Sousa Lima, a Nédia, é a autora da ação de investigação judicial contra Marinez. Candidata derrotada à Câmara Municipal pela oposição, ela ajuizou a representação em 2004.

No ano passado, no entanto, Nédia passou de opositora a aliada da prefeita e retirou a ação. Na última segunda-feira, 23, ela também resolveu mudar o depoimento. A mudança de versão teria acontecido com outras duas testemunhas.

O promotor da 107ª Zona Eleitoral, Nestor Rocha Cabral, que acompanha o caso, pediu a detenção das três testemunhas, por falso testemunho, à juíza Maria do Socorro. A prisão foi decretada e elas foram recolhidas à Superintendência da PF, em Fortaleza. A pena para esse tipo de crime varia de um a três anos de detenção.

Segundo o promotor, a mudança dos depoimentos está acontecendo por conta de pressões que aliados da prefeita estariam fazendo sobre os envolvidos. “Está havendo aliciamento de testemunhas”, sustenta ele. Cabral diz que, com a retirada da representação por Nédia, o MP assumiu a autoria das denúncias por se tratar de interesse público.

A testemunha sob custódia é José Osário. Peça-chave no processo, caberia a ele a intermediação da distribuição de lotes de terra em troca de votos, segundo informações obtidas pelo O POVO no Fórum da cidade, onde os depoimentos estão sendo colhidos.

No depoimento, anteontem, Osário teria admitido o esquema e dado detalhes. Logo após, ele teria sido visto no interior de um veículo de pessoas ligadas à prefeita. “Em menos de duas horas, ele mudou a versão”, diz o promotor. Ele deverá ser ouvido novamente.

Ontem à tarde, a Polícia Federal fez uma vistoria no automóvel, em busca de arma. Nada foi encontrado. Além da PF, estão dando apoio aos trabalhos da Justiça uma equipe da Polícia Militar e outra da Civil.

A prefeita, que está acompanhando todos os depoimentos, não quis falar com a imprensa. O advogado Adriano Ferreira Gomes, um dos três que está na defesa, rebate tanto as acusações de troca de voto quanto de aliciamento. O argumento principal é de que os terrenos foram doados em 2002, dois anos antes da disputa eleitoral. A reportagem confirmou a informação junto a moradores beneficiados com os terrenos, localizados no bairro Swat.

Marinez era secretária da Ação Social do município quando o marido Henrique César Ramalho era prefeito. Os dois estão separados. O atual marido, Ivanovitch Guilherme, também nega o interesse político no episódio e afirma que a prefeita deu os terrenos porque tem “o coração muito bom”.