Câmara derruba veto a alianças Os deputados deram ontem o passo decisivo para derrubar a chamada verticalização – regra que impede os partidos de fechar nas eleições para governador alianças diferentes das firmadas para as eleições presidenciais. Por 343 votos contra 143, além de uma abstenção, a Câmara aprovou emenda constitucional que libera as legendas para se coligar à vontade nas disputas estaduais, a despeito da posição que adotarem na corrida presidencial. Da bancada cearense, apenas José Pimentel (PT) e Gonzaga Mota (PSDB) votaram contra o fim da verticalização. Almeida de Jesus (PL) estava ausente.

O Senado já tinha aprovado a emenda em 2002, na tentativa frustrada de reverter uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que impôs a verticalização poucos meses antes da eleição daquele mesmo ano. Na Câmara, a votação de ontem representou o primeiro turno de apreciação da emenda, que agora, para entrar em vigor, terá de passar por mais um turno de votação. Os deputados que se opunham à verticalização festejaram o resultado no plenário com gritos de euforia e chuva de papel picado.

A aprovação da emenda representou uma derrota do PT, que luta contra a mudança da regra, numa atitude que contraria a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorável à liberação das coligações estaduais. Lula avalia ter mais condições de conseguir o apoio do PMDB sem a verticalização, já que a maioria dos dirigentes regionais do partido prefere ficar livre para se coligar com quem quiser na eleição estadual. Com a mudança, o PMDB poderá, por exemplo, dar apoio à reeleição do presidente e combater o PT na maioria dos Estados, onde em geral as duas legendas têm rivalidade histórica

Na tarde de ontem, antes da votação, ninguém se arriscava a fazer previsões sobre o resultado. A virada repentina do grupo do PFL vinculado ao senador Antonio Carlos Magalhães (BA), que decidiu apoiar a verticalização, surpreendeu a Câmara. ACM abriu uma dissidência dentro de seu partido e passou o dia trabalhando contra a emenda.

A guinada de Antônio Carlos foi resultado de cálculo político com tempero regional. Foi motivada pelo temor do isolamento de seu grupo na Bahia, o que pode dificultar a reeleição do governador Paulo Souto (PFL). Livres para compor alianças nos Estados, PSDB, PMDB, PDT e PT tenderiam a formar na Bahia uma frente em torno de um único candidato para enfrentar Souto.

Além do PT, apenas o PP orientou o voto pela verticalização. No PSDB, havia uma maioria pró-verticalização, mas uma expressiva dissidência. Por isso, o líder Alberto Goldman (SP) liberou o voto. Acabaram votando pela emenda 24 deputados, um a mais dos que votaram contra.

Os outros partidos tiveram claras maiorias favoráveis à quebra da regra. No PFL,
foram 44 deputados de 60. Votou pela verticalização somente a ala baiana, preocupada em evitar a formação de uma coalizão entre partidos como PDT, PSDB e PT no Estado. Já no PMDB, a aprovação foi unânime entre os presentes: 78 votos favoráveis. (com agências)