A ascensão da esquerda na América Latina

A América Latina sempre foi considerada o ´quintal´ dos Estados Unidos. Nos últimos anos, porém, transforma-se na ´sala de visita´ pelo respeito que passa a ter do mundo, principalmente dos norte-americanos. Mas, com esta guinada à esquerda não se sabe até que ponto os latinos suportarão a pressão de Washington. Vivemos dias de euforia, expectativa ou preocupação? Há, pelo menos, duas certezas: são de preocupações para o Governo Bush e de euforia para quem defende uma AL livre. Desde o movimento zapatista, no México, em 1994, até a posse de Evo Morales, na Bolívia, há uma semana, tramita uma metamorfose sociopolítico-econômica na América Latina.

O ano de 2006 começou com a posse do líder indígena Evo Morales, na Bolívia. Se antes Chávez, Lula, Kirchner e Tabaré já preocupavam, imagine agora com o reforço de Michelle Bachelet. Isto significa uma antevisão do que poderá acontecer até dezembro, quando a América Latina participará de outras eleições presidenciais, incluindo-se a do Brasil no dia 1º de outubro. Poderão se integrar ao grupo o Peru (Humala) e o México (Obrador). Verdade é que a partir das eleições deste ano, o mapa político do Continente poderá, radicalmente, ser alterado.

De acordo com a revista norte-americana “Time”, cerca de 300 milhões (dos 520 milhões de habitantes da América Latina) já vivem sob governos de esquerda e centro-esquerda. A alteração do mapa vai depender do avanço da esquerda radical durante as eleições programadas para este ano.

Vê-se juntos, confabulando, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales, Hugo Chávez, da Venezuela (podendo ser reeleito em dezembro próximo), o socialista Tabaré Vazquez, do Uruguai, e Néstor Kirchner, da Argentina (eleição em abril de 2007). Eles confabulam, na certa, para puxar para o grupo a chilena recém-eleita e também esquerdista Michelle Bachelet. São seis dos dez presidentes sul-americanos que, para ´despistar´, mantêm apenas contato telefônico com o conselheiro-mor Fidel Castro.

Os outros quatro países sul-americanos: Colômbia, Peru, Equador e Paraguai estão nos planos. Na Colômbia, o direitista Álvaro Uribe tentará a reeleição no dia 28 de maio com apoio de George Wolker Bush. A esquerda, porém, está com os olhos é no possível aliado Carlos Gaviria. Deverão também disputar a presidência da Colômbia o senador Rafael Pardo e Ingrid Betancourt, que desde 2002 está presa pelas Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farcs).

No Peru, Ollanta Humala, que liderou o golpe contra Alberto Fujimori, credencia-se para as eleições de 9 de abril e poderá substituir Alejandro Toledo, mas ainda está no páreo a direitista Lourdes Flores. No Equador, os movimentos camponês e indígena elegeram Lúcio Gutierrez, que se aliou em seguida aos EUA. Não demorou para que os movimentos contribuíssem para a queda do governo, assumindo no dia 20 de abril do ano passado Alfredo Palácio.

No Paraguai, a eleição será realizada em novembro de 2008, com urnas eletrônicas de tecnologia brasileira. O presidente de direita Nicanor Duarte é favorito, mas ameaçado pelo ex-general Lino Oviedo, condenado a 10 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Se não aparecer outro, a esquerda pretende apoiar Oviedo.

A eleição de outubro no Brasil também deve contribuir para o futuro da América Latina. Tudo indica que Lula, com apoio dos considerados progressistas, enfrentará um candidato do PSDB apoiado pelo PFL. O PMDB anuncia que vai lançar candidato próprio. Com o fim da verticalização, é possível que partidos pequenos também lancem candidaturas isoladas.