MP vai investigar exercícios militares com índios
A utilização de índios e descendentes em exercícios militares das Forças Especiais do Exército no interior do país será investigada pelo Ministério Público Federal, afirmou a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Ela Wiecko, que se mostrou bastante surpresa com o material sobre a denúncia, publicada ontem pelo jornal “Extra”.
A Câmara dos Deputados e a Funai também cobrarão explicações do do Exército e do Ministério da Defesa .
“Do ponto de vista dos povos indígenas, esse contato com armas é prejudicial. Não tem nada a ver com os índios. Fiquei surpresa, sobretudo ao ver mulheres nesses exercícios (portando fuzis)” afirmou a procuradora Ela Wiecko em entrevista ao jornal.
O procurador-geral da Fundação Nacional dos Índios (Funai), Luiz Fernando Villares e Silva, disse que também ficou surpreso com a denúncia e ressaltou que Funai não tinha conhecimento de que tais exercícios eram feitos, apesar de o Exército dizer que são atividades regulares e, até anuais, mesmo que de forma voluntária e sem emprego de munição.
“Não faz parte da cultura dos índios portar armas de fogo” disse Villares, acrescentando que a prática fere o artigo 231 da Constituição, que reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições.
Argumentos do Exército
Após a denúncia do jornal, que mostrou que populações indígenas e de seus descendentes estariam sendo usadas para simulações de exercícios de guerra, o Centro de Comunicação Social do Exército afirmou que os exercícios era para “adestramento” dos militares e não dos índios.
Segundo o procurador-geral da Funai, a alegação do Exército não atenua o problema. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara já tinha conhecimento do caso. Segundo a presidente da comissão, a deputada Iriny Lopes (PT-ES), será enviada uma recomendação ao Ministério da Defesa para que o comando pare com esses exercícios, seja qual for o pretexto. O Ministério da Defesa informou que desconhece esses exercícios.