Turismo sexual tem 398 destinos Os dados são do Ministério do Turismo: dos 1.514 destinos turísticos brasileiros, 398 têm esquemas de exploração sexual de crianças e adolescentes. Em Natal (RN), a prostituição aumenta proporcionalmente ao fluxo turístico
Adriana Carranca e Vannildo Mendes
da Agência Estado
A adolescente C.F., de 17 anos, perambula pelas ruas de Natal em busca de clientes desde os 14 anos. Conheceu muitos nas calçadas que beiram o mar verde da praia de Ponta Negra, onde se concentra a maioria dos turistas, entre brasileiros e estrangeiros.
As meninas e jovens prostitutas chegam a cobrar até R$ 200,00 por um programa. Ponta Negra é apenas um dos 29 pontos de turismo sexual identificados pela Polícia Civil desde 2001 na cidade. A maioria continua funcionando à revelia de campanhas e ações de fiscalização.
Dados do Ministério do Turismo, de 2004, apontam que, dos 1.514 destinos turísticos brasileiros, 398 têm esquemas de exploração sexual de crianças e adolescentes. Em Natal, a prostituição aumenta na medida do crescimento do turismo, que hoje lota 30 vôos nacionais diários e outros 25 charters internacionais por semana, trazendo gente da Inglaterra, Espanha, Portugal e países nórdicos. Com eles, chegaram a Natal também garotas de programa vindas de outras capitais brasileiras, como Fortaleza e Recife, com problemas semelhantes de turismo sexual.
O aumento das prostitutas em Ponta Negra fez com que C.F. trocasse o bairro pelas calçadas da Avenida Roberto Freire, onde fica o Praia Shopping, outro local freqüentado pelos turistas. ”Aqui a concorrência ainda é pequena”. C.F. e amigas cobram R$ 30,00 por programa – o dobro do que receberia como doméstica.
Segundo a polícia, a maioria dos pontos de prostituição em Natal tem meninas com menos de 18 anos. Em dezembro, foram presos os sócios da boate Senzala e dois taxistas por favorecimento de prostituição. A boate já havia sido interditada em 2002. Hoje, continua aberta e os acusados respondem a processo em liberdade.
Do fim de 2003 a novembro de 2005, a Polícia Federal fez seis megaoperações no País contra as quadrilhas. O traço comum entre elas é a ligação com o crime organizado internacional. A mais importante, a Operação Corona, feita em novembro no Rio Grande do Norte, levou à prisão do mafioso italiano Giuseppe Amirabille, um dos chefões da Sacra Corona Unita.
Com a proximidade do carnaval, governos estaduais também reforçaram o combate à exploração sexual. Equipes da Secretaria de Estado da Infância e da Juventude do Rio vão intensificar a abordagem de adolescentes que se prostituem em Copacabana. Por mês, cem delas são acompanhadas: 85% têm de 13 a 17 anos e vêm de outros municípios; 10%, que têm entre 9 e 11 anos, são exploradas pela família. ”Não se tira um jovem desses da rua em um mês. Fazemos um trabalho de formiguinha”, disse a coordenadora do serviço, Adriana Guilherme.
Campanha inclui Fortaleza
”Explore sexualmente uma criança e vá para cadeia. Aqui ou em seu país”. A mensagem, em inglês, está em outdoors e panfletos que vão começar a ser distribuídos hoje em hotéis e aeroportos de oito capitais – São Paulo, Rio, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Belém e Manaus. A campanha contra o turismo sexual infantil é financiada pelo governo dos Estados Unidos e pela organização não-governamental internacional Visão Mundial.
O objetivo principal da iniciativa é combater a sensação de impunidade dos envolvidos com exploração sexual. A entidade afirmou que um dos motivos que a fez trazer a campanha ao Brasil foi a estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) de que o País, as Filipinas e a Tailândia são responsáveis por 10% do turismo sexual no mundo. Na Tailândia, a campanha já é realizada há dois anos.
A Visão Mundial usou como base do trabalho no Brasil uma pesquisa feita entre 1996 e 2004 pela Universidade de Brasília (UnB), que identificou 930 municípios onde existe comprovação de exploração sexual infantil – os casos não se limitam a turismo sexual, incluindo outras formas de abuso. Mas a especialista Fátima Leal disse que campanhas nacionais são pouco eficientes. Para ela, o ideal é o combate municipalizado, integrado a programas sociais. (das agências)