43 escolas anexas não têm estrutura de funcionamento A menina tem quatro anos e estuda numa escola anexa municipal chamada Planeta Azul I, no Genibaú. A fachada tem a cor do nome, mas pára aí a identificação com a infância. O lugar não lembra que ali estudam crianças. Não há parque infantil, quadra esportiva, brinquedos, salas de leitura. A garota estuda em uma sala pequena e mal ventilada, com a cerâmica do piso velho e paredes desbotadas. Os banheiros estão degradados e o bebedouro é alto impedindo que crianças como ela possam alcançar. O POVO opta por não identificar a criança para não haver constrangimento.

O quadro é triste e comum em outras escolas anexas municipais. Das 114 escolas anexas atualmente no município, ainda há 43 sem atender às determinações do Conselho de Educação do Ceará (CEC). Em 2004, uma comissão do CEC visitou 157 anexos escolares municipais de Fortaleza e considerou que 78 unidades não tinham infra-estrutura adequada. A situação dos 78 anexos não atendia aos requisitos do Parecer 46 do Conselho, editado em 2002, que determina os parâmetros de funcionamento das escolas.

”Para a minha filha, que é pequena, tudo está bom. Mas eu queria que ela tivesse uma escola boa, com sala de leitura. Os professores são bons, mas de vez em quando faltam. Também é ruim para os professores porque as salas são pequenas e fica tumultuado”, frisou a mãe da garota. A dona de casa disse que, mesmo assim, a escola é boa porque é perto de casa. E pediu que, se o anexo for desativado, que seja construída uma escola na comunidade. ”Desejo que minha filha tenha um futuro melhor que o meu, que seja alguém na vida, estude numa escola boa”.

No ano passado, dividindo o pequeno espaço do Planeta Azul I, havia 360 alunos distribuídos nos turnos da manhã e da tarde. Agora, a escola está em recesso pelo período de matrícula, de férias, e fica difícil imaginar tantas crianças no local.”A cozinha é precária e tem constantes ‘visitas’ de ratos. Já pedimos dedetização. O bebedouro é novo mas está com problemas. As salas estão sem portas e aqui não tem segurança. Também tem problema na instalação elétrica e quando chove alaga o pátio”, disse o agente administrativo da escola, Ivalnei Sena. Ele sonha com uma escola digna para a comunidade.

”Infelizmente é essa a situação. Os pais reclamam muito, a gente não pode oferecer mais. Os profissionais fazem o que podem. A prefeitura teria que comprar uma escola no centro do bairro. Essa aqui não dá para reformar, teria que construir outra”, avaliou Ivalnei.

Essa escola é uma das que não atendem ao Parecer 046/2002 do CEC. O O POVO visitou sete colégios que não atendem ao parecer e encontrou problemas semelhantes, na terça-feira, dia 10. Há buracos no piso dos pátios, portões e corredores estreitos entre as salas. As escolas visitadas não têm jardins ou quaisquer outros espaços verdes acolhedores.

Não há quadras esportivas ou parques infantis mesmo nas escolas com classes de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental em geral. As escolas também não possuem acessos aos portadores de deficiência, como rampas e banheiros mais largos. A água disponível está em bebedouros, que em alguns casos está enferrujado e mal conservado.

Segundo a Secretaria Municipal da Educação e Assistência Social (Sedas), haverá mudanças em vários locais da cidade, com compra, construção ou ampliação de escolas que estão adequadas.