Some acusado de matar Celso Daniel
Desapareceu o homem acusado de ter fuzilado o prefeito Celso Daniel, do PT de Santo André. L.S.N., que tinha 16 anos quando foi capturado e confessou o crime, está desaparecido desde que compareceu pela última vez à Unidade de Semiliberdade Inicial da Febem, no bairro do Belém, em 29 de junho. Mas só agora a polícia e o Ministério Público ficaram sabendo. “Apuramos que ele fugiu”, disse na terça-feira a delegada Elizabeth Sato, que dirige as investigações sobre a morte de Daniel.

Lelo, como L.S.N. é conhecido, faz 21 anos em 4 de fevereiro. Ele admitiu ter disparado sete tiros de pistola 9 milímetros à curta distância no prefeito indefeso. Disse ter acatado ordens de José Edison da Silva, líder do bando que seqüestrou Daniel exatos quatro anos atrás, na noite de 18 de janeiro de 2002.

Oito são os réus no processo sobre a execução do prefeito. Seis estão presos, um aguarda julgamento em liberdade por ordem do Supremo Tribunal Federal – é o empresário Sérgio Gomes da Silva, a quem a promotoria criminal atribui papel de mandante do crime.

O oitavo acusado, Lelo, era o único menor do grupo na ocasião do crime. Por isso, o procedimento judicial aplicado a ele foi diferente, de acordo com as normas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Enquadrado como “primário grave”, ficou três anos – o máximo que a lei autoriza – em regime fechado de internação na Febem.

No primeiro semestre de 2005, a Justiça da Infância e da Juventude concedeu a Lelo – já com 20 anos – medida de progressão, transferindo-o para estágio mais brando, o semi-aberto, também denominado semiliberdade. Na prática, durante o dia ele deveria estudar ou arrumar um emprego, obrigatoriamente. À noite, recolher-se a uma casa comunitária da Fundação do Bem-Estar do Menor.


Faculdade

A casa comunitária para onde mandaram Lelo fica na Vila Beatriz. Os internos não são vigiados. O homem que assumiu o fuzilamento do prefeito de Santo André, crime que incomoda o PT e assombra o Palácio do Planalto, ficou lá alguns meses, sem escolta da polícia.

Os arquivos da Febem revelam que, antes de sumir, Lelo cursou a metade do primeiro ano da faculdade de Educação Física em universidade de Mogi das Cruzes. A Febem arrumou para ele uma bolsa de estudos, subsidiada pelo Estado como compensação pelo fato de ele se dedicar ao Programa Escola da Família – trabalhava aos sábados e domingos em escolas públicas abertas à comunidade.

Nessa época, sua família estava morando no município de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Assistentes sociais atestaram “situação de pobreza total” dos parentes de Lelo. A família passou a receber apoio do serviço social de Taboão e foi incluída em programa de distribuição de renda do município.

Consta do prontuário de Lelo na Febem que, antes de desaparecer, teria brigado com a mãe, chegando a agredi-la. Foi aí que quebrou a medida, ou seja, não mais voltou à fundação. Em seu último endereço, anotado pela Febem, ninguém nunca ouviu falar dele – uma pensão no bairro de Santa Cecília.

Para o Departamento de Homicídios não há dúvidas de que Lelo foi mesmo o atirador. Segundo a polícia, ele foi convidado por José Edison a acompanhá-lo até um sítio de Juquitiba, onde ficava o cativeiro de Celso Daniel. Na estrada da Cachoeira, Edison ordenou-lhe que retirasse o prefeito do porta-malas de um Tempra e o executasse “com tiros na cabeça”.

O Ministério Público suspeita que Lelo assumiu a autoria do crime pressionado por José Edison. Como menor, sua pena seria atenuada. Ele teria confidenciado a funcionários da Febem que foi Edison quem atirou no prefeito.

Agência Estado