Crime na Base: PF tem suspeito Um ano e quatro meses depois da morte de dois soldados no interior da Base Aérea de Fortaleza, a Polícia Federal chega a um suspeito de envolvimento no crime. No dia 10 de setembro de 2004, Francisco Cleoman Fontenele Filho e Robson Mendonça Cunha foram encontrados mortos com tiros na cabeça

Demitri Túlio
da Redação


[01 Fevereiro 03h11min 2006]

A Polícia Federal (PF) já tem pelo menos um suspeito de envolvimento nas mortes dos soldados da Base Aérea de Fortaleza (Bafz), no dia 10 de setembro de 2004. Francisco Cleoman Fontenele Filho, 20, e Robson Mendonça Cunha, 19, foram encontrados mortos no interior de um alojamento da Base. Os corpos estavam juntos sobre um beliche, cada um com uma marca de tiro na cabeça.

A reviravolta no caso surge sete meses depois de o procurador militar Antônio Cerqueira ter pedido o arquivamento do processo, alegando que se tratava de um homicídio seguido de suicídio. Segundo O POVO apurou, as investigações realizadas sobre o caso já teriam reunidos elementos e provas para caminhar noutro sentido.

Ontem, durante todo o dia, especulações davam conta de que um possível acusado teria sido preso. As informações, porém, foram descartadas por policiais federais. O POVO, que opta por não divulgar o nome, conversou com o suspeito. Ele se mostrou surpreso e negou a participação na morte dos dois militares. Por enquanto, ele afirmou que não vai se pronunciar sobre o fato.

Os motivos que teriam levado o suspeito a se envolver nos assassinatos ainda não são claros. No entanto, segundo as investigações, vítimas e criminosos teriam ligações além do dia-a-dia no quartel.

Essa é a primeira vez que as investigações sobre o duplo assassinato apontam para um nome. Até então, a versão apresentada era a de que um deles teria disparado contra a cabeça do outro e depois se matado. Tese que foi contestada, desde o início, pela promotoria militar.

O fato foi motivo de um desentendimento que extrapolou o âmbito do Ministério Público Militar e chegou à imprensa. O procurador Antonio Cerqueira foi contrário a linha de investigação adotada pelo promotor Alexandre Saraiva Leal. Cerqueira pediu o encerramento do caso, mas a juíza Maria do Socorro Leal não aceitou e mandou que o trabalho seguisse.

Contra a suspeita da promotoria existia ainda o resultado da necropsia do Instituto Médico Legal que apontava também para a versão de homicídio seguido de suicídio. A mesma constatação foi feita por peritos da Polícia Federal de Goiânia e Brasília após apresentação do laudo da exumação dos corpos.

Comungando do mesmo pensamento de Alexandre Saraiva, a família de um dos soldados revelou que ele falava ao telefone com a namorada, quando a conversa foi interrompida por disparos. A hora coincidia com a das mortes. Além disso, o comando da Base Aérea admitiu indícios de duplo homicídio.


ENTENDA O CASO BASE AÉREA

EM 2004
10/9 – Os soldados Francisco Cleoman Fontenele Filho, 20, e Robson Mendonça Cunha, 19, são encontrados mortos dentro de um alojamento da Base Aérea de Fortaleza. Os corpos estavam juntos sobre um beliche, cada um com uma marca de tiro na cabeça.

11/9
– Necropsia do Instituto Médico Legal aponta a tese de homicídio seguido de suicídio. A família de um dos soldados diz que ele falava ao telefone com a namorada, quando a conversa foi interrompida por disparos. A hora coincidia com a das mortes.

13/9 –
O capitão Márcio Ribeiro é nomeado para presidir o Inquérito Policial Militar (IPM) do caso.

14/9 –
Familiares convocam a imprensa para descartar a versão de homicídio seguido de suicídio.

15/9 –
Somente cinco dias depois, a Base disponibiliza as armas dos soldados mortos para exame de balística.

17/9 –
O Comando da Base ordena que 80 militares sejam submetidos à exame residuográfico (para detectar uso de arma de fogo).

24/9 –
O promotor militar Alexandre Saraiva é designado para acompanhar o IPM. Ele admite que a perícia da Polícia Civil nem tirou fotos do local.

14/10
– O Comando da Base Aérea admite indícios de duplo homicídio.

02/12
– O promotor Alexandre Saraiva pede a exumação dos corpos, que é realizada oito dias depois.

16/12
– Peritos da Polícia Federal de Goiânia e Brasília apresentam laudo da exumação e concluem que houve homicídio seguido de suicídio.

EM 2005

04/02 –
O promotor envia o inquérito à Justiça Militar pedindo novas diligências.

21/03 –
Mais uma vez, o promotor devolve o inquérito à Justiça Militar e solicita à Aeronáutica a identificação das pessoas e veículos que tiveram acesso à Base Aérea no dia das mortes, além de mais investigações à PF.

15/4 –
A Justiça Militar devolve para o Ministério Público Militar o inquérito do caso, para novo parecer.

2/5 –
Substituindo o promotor Alexandre Saraiva, que entrou de férias, o procurador militar Antônio Cerqueira emite parecer concordando com a tese de homicídio seguido de suicídio e sugere o arquivamento do caso. O inquérito vai para as mãos da juíza Maria do Socorro Leal.

13/5 – Famílias dos soldados realizam segundo protesto em frente à Base Aérea de Fortaleza contra o arquivamento do inquérito policial militar.

31/5 – A juíza Maria do Socorro Leal não acata o pedido de arquivamento, por não ter elementos conclusivos. Requisita à PGJM, em Brasília, aprofundamento das diligências.

10/10 – A procurador geral da Justiça Militar (Brasília), Maria Ester Henrique Tavares, decide devolver o processo para o Ministério Público Militar em Fortaleza. Ela não aceita o pedido de arquivamento proposto pelo procurador Antônio Cerqueira.