Cena do crime foi alterada na Base Aérea Depoimentos de três soldados apontam que a cena do crime ocorrido na Base Aérea de Fortaleza foi violada. A posição dos corpos e a mudança de um objeto de lugar confirmaria que alguém alterou o cenário onde teriam sido mortos Cleoman Fontenele e Robson Mendonça
Demitri Túlio
da Redação
[02 Fevereiro 01h45min 2006]
A suspeita inicial de que houve violação do local do crime onde foram encontrados os corpos dos soldados Francisco Cleoman Fontenele Filho, 20, e de Robson Mendonça Cunha, 19, foi confirmada pelo depoimento de pelo menos três militares que estavam de serviço no dia que aconteceram as mortes. O POVO teve acesso aos documentos e, segundo as testemunhas, a posição dos corpos e um ”estrado” do beliche do alojamento foram alterados.
10 de setembro de 2004. Após o anúncio da morte dos dois soldados no interior da Base Aérea, a primeira versão divulgada à imprensa dava conta de que o cadáver de Robson estava sobre o colo de Cleoman. Baseado nessa versão, e em outros detalhes, Cleoman teria atirado no colega e depois teria se suicidado. A informação também deixava nas entrelinhas que o acontecido teria motivação passional.
Meses depois da divulgação dessa informação, dois soldados afirmaram em depoimento no Ministério Público que a versão não era verdadeira. Foram eles que primeiro chegaram ao local ao lado do oficial-de-dia do quartel. Segundo as testemunhas, havia uma distância entre os corpos dos dois. Robson estaria sentado no chão com a cabeça caída sobre o colchão e de costas para a porta de entrada. Já Cleoman foi encontrado deitado de frente e braços em ”u”.
Outro detalhe, que também apontaria para a violação do cenário do crime, surgiu depois que uma terceira testemunha afirmou que havia deixado o jantar dos dois, momentos antes do crime, sobre o estrado da parte superior do beliche onde foram encontrados os corpos. Quando a perícia chegou ao local, o estrado estava encostado na parede.
Segundo a testemunha, foi Cleoman Fontenele que orientou para que os pratos dos dois soldados fossem colocados em cima do apoio de madeira que estava sem colchão. Ele estava ao telefone segundo relato da testemunha.
Mas desde o início das investigações, o cenário onde foram achados os corpos gerou polêmica porque não teria sido preservado. Poderia também ter havido falha do oficial-de-dia, que não isolou a área na hora que encontrou os mortos. Sem nem ter sido liberado pela perícia da Secretaria da Segurança Pública, a Base Aérea de Fortaleza também teria realizado uma capinação nas imediações do alojamento onde ocorreram as mortes de Cleoman Fontenele e Robsom Mendonça.
Mas a perícia do Instituto de Crimininalística também falhou, segundo o Ministério Público Militar. Na época, o promotor Alexandre José de Barros Leal Saraiva reclamou dos peritos por não terem feitas fotos dos cadáveres e do alojamento. Ficou para um militar da própria Base Aérea a incumbência de fazer o registro.
O POVO tentou o contato com o promotor Alexandre José de Barros Leal Saraiva, responsável pelo processo. Funcionários da promotoria informaram que ele está de férias. Seu telefone celular permaneceu desligado e na residência dele foi deixado recado, mas até o fechamento dessa edição não houve resposta.