Delegado da PF é condenado Flávio Pinto
da Redação

[09 Março 03h27min 2006]


O delegado da Polícia Federal, Paulo Cauby Batista Lima, 41, apontado como um dos cabeças do mega-esquema de lavagem de dinheiro no Ceará, foi condenado pela segunda vez pelo juiz Danilo Fontenelle Sampaio, da 11ª Vara da Justiça Federal. Desta vez, a sentença foi de seis anos de prisão a ser cumprida inicialmente em regime semi-aberto. Cauby foi considerado culpado por colaborar com a organização criminosa encabeçada pelo doleiro Alexander Diógenes Ferreira Gomes, o “Alex”, com vazamento de informações privilegiadas sobre atuação da Polícia Federal nas investigações contra crimes praticados pelo doleiro e por suas empresas ACC Card e Grupo ACC.

Já Alex Ferreira Gomes havia sido condenado em fevereiro do ano passado por remessa ilegal de dinheiro para o exterior (lavagem de dinheiro) e crime contra o sistema financeiro, a 12 anos de prisão. O doleiro tem prisão preventiva decretada e é considerado foragido.

As informações, segundo os autos do processo de número 2003.81.00.0182-4, eram repassadas por meio de mensagens eletrônicas (e-mails). Em 2004, o delegado federal já havia sido condenado a nove anos de prisão por crimes de contrabando, receptação, peculato e consumo de drogas. Nesta segunda sentença decretada na última terça-feira (7), o juiz Danilo Fontenelle decretou também a perda da função de delegado e da função pública do réu. A decisão ainda cabe recurso ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em Recife (PE). Paulo Cauby continua em liberdade aguardando decisão de recurso impetrado contra a primeira condenação.

Em 26 de fevereiro de 2002, o então delegado federal Paulo Cauby exercia a função de chefe da Delegacia de Polícia Marítima, Aeroportuária, e de Fronteiras (Delemaf). No dia 7 de junho daquele ano, acabou preso após a PF ter descoberto nos Correios, por meio da remessa de um computador do empresário Alex Ferreira Gomes para a Nova Zelândia, e-mails vindo do endereço eletrônico [email protected]. O endereço, conforme a PF, pertencia à mulher do delegado e tinha, por meio de mensagem cifrada, informações sigilosa sobre as investigações da PF contra as empresas do doleiro.

No dia seguinte à prisão, a PF encontrou armas de fogo sem registro, além de 17,5 gramas de maconha e entorpecentes na casa. Também foram apreendidos computadores, documentos, agenda e celular. Na agenda, foram encontrados telefones que, depois de periciados, ligaram o delegado a Alex Ferreira Gomes. Havia mensagens referenciadas a “Baixinho”, “Baix”, “Sil” e “Sill”. Baixinho seria o apelido de Alex Ferreira Gomes, que é portador de deficiência física. “Sil” seria Sylvana Maria Medeiros, que era secretária do sócio majoritário do Grupo ACC.

Em sua decisão, o juiz Danilo Fontenelle considerou procedente a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF), na qual, o delegado Paulo Cauby valendo-se de tal condição e em desprezo à confiança depositada por sua função de delegado federal, e tendo agido de forma vil e torpe de valer-se do cargo para obter vantagens indevidas, o condenou a seis anos prisão.

O POVO tentou falar na tarde e noite de ontem com o delegado Paulo Cauby, mas seu aparelho celular estava desligado ou temporariamente fora da área de cobertura. O advogado Carlos Martins, responsável pela defesa do réu, não foi encontrado em seu escritório e nem por telefone. Segundo um colega de Martins, que atendeu o telefone no escritório e se identificou como Otávio, Martins estava incomunicável, mas deveria retornar a ligação para a Redação, o que acabou não acontecendo até as 22 horas de ontem.


PARA ENTENDER O CASO


26/2/2002 – Alex Ferreira Gomes é preso pela Polícia Federal, acusado de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas, formação de quadrilha e crime organizado.

28/2/2002 – Decisão do Tribunal Regional Federal (TRF), em Recife, concede liberdade a Alex Ferreira Gomes. A PF informa à imprensa que outras quatro pessoas também teriam a prisão preventiva decretada. Entre eles, Vilfran Teixeira Torquato, tesoureiro e apontado como braço direito de Alex no crimes.

23/8/2002 – Decisão da 11ª Vara de Justiça Federal determina a indisponibilidade dos bens do empresário Alex Ferreira Gomes e de mais quatro pessoas que tiveram a prisão decretada, inclusive Vilfran Teixeira Torquato.

16/9/2002 – Alex Ferreira Gomes é seqüestrado quando saia de casa para o trabalho. Um segurança foi morto e outro baleado. O empresário foi libertado 39 dias depois do seqüestro, diante do pagamento de resgate no valor de R$ 600 mil, segundo a Polícia.

29/11/2002 – Ministério Público entrega na Justiça Federal denúncia contra Alex Ferreira Gomes, um sócio e cinco empregados, por terem aberto em 1997 duas contas bancárias em nome de um “laranja” e por fazerem movimentações financeiras irregulares. Esta já era a quarta denúncia contra o doleiro.

7/6/2003 – O delegado federal Paulo Cauby é preso sob acusação de repassar informações sigilosas a Alex Ferreira Gomes. A prisão temporária posteriormente foi transformada em preventiva, tinha a função de afastá-lo para não comprometer as investigações contra as empresas de Alex Ferreira Gomes.

25/6/2003 – Paulo Cauby é liberado. Segundo o então superintendente da PF no Ceará, Bergson Toledo, a Justiça havia concluído que não havia mais necessidade da preventiva porque “as provas estariam preservadas”.

15/5/2004 – O POVO tem acesso com exclusividade a e-mails comprometedores que reforçam o suposto esquema de propina entre o doleiro Alex Ferreira Gomes e o delegado Paulo Cauby.

26/8/2004 – Delegado Paulo Cauby é condenado a 9 anos de prisão por formação de quadrilha, peculato, receptação e uso de drogas.

14/2/2005 – O juiz Danilo Fontenelle, da 11ª Vara Federal, condena o doleiro Alex Ferreira Gomes a 12 anos de prisão. Alex é considerado foragido.

7/3/2006 – Paulo Cauby é novamente condenado. Desta vez pelo repasse de informações sigilosas da PF ao doleiro Alex Ferreira Gomes. A sentença foi de seis anos de prisão.


Fonte: Banco de Dados