Base da quadrilha de clonadores funcionava no IPPS De dentro do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) parte da quadrilha de clonadores de cartões bancários e de crédito trocavam informações com bandidos do lado de fora, planejavam as ações pelos estados e tramavam assassinatos. Essa é apenas uma das bases do documento de mais de 86 páginas, assinado pelo juiz da 11ª Vara Federal, Danilo Fontenele, que foi usado para deflagrar a 2ª parte da operação Dublê nos estados do Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo.

A ousadia é tanta, que a base da quadrilha instalada no IPPS negocia também a venda de tecnologia de chips para a clonagem dos cartões. Eles também planejavam ampliar os negócios sujos e instalar “filiais” da quadrilha nos Estados Unidos, Peru e Bolívia. A Polícia também identificou que parte do dinheiro obtido por meio de fraudes na Internet era enviada para o exterior.

Sem demonstrar preocupação com a Polícia, a quadrilha também negociava através de advogados a “compra” de sentenças e contratava esposas de promotores públicos com o objetivo de obter alguma vantagem nos processos judiciais. Coincidência ou não, Luiz Mário Alves Bezerra, apontado como um dos líderes da quadrilha, foi absolvido ou impronunciado em quase todos os processos.

A Operação Dublê, desenvolvida pela Polícia Federal na última quarta-feira (15), em quatro estados (Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo), até o momento foi responsável pela prisão de 26 pessoas acusadas de envolvimento com uma quadrilha de clonadores de cartões magnéticos bancários e de crédito.

Nas escutas, bandidos trocam informações entre eles e comentam sobre as atividades criminosas. Parte das escutas feitas nos telefones de Luiz Mário Alves Bezerra e de Aloísio Costa de Castro, este último preso e recolhido ao IPPS, revelam que a quadrilha teria aplicando um golpe de R$ 1,9 milhão contra o Unibanco. Um outro golpe teria sido arquitetado no valor de R$ 1,3 milhões contra o Bradesco, através da falsificação de boletos bancários.

As transações são inúmeras e o montante do golpe ainda não foi estimado pela Polícia Federal, mas especula-se que nos últimos cinco anos em que a quadrilha vinha agindo, o valor pode ter ultrapassado a casa dos R$ 50 milhões.

Entre outras escutas autorizadas pela Justiça, os clonadores trocam informações com seus advogados sobre processos em que estão envolvidos. Nas ligações, a Polícia Federal pôde constatar que há indícios de corrupção e envolvimento de promotores e juízes. Um deles fala sobre sua advogada, que seria esposa de um promotor, que “facilitaria as coisas” quando o processo fosse para o Ministério Público. Em outra escuta, Luiz Mário diz para um de seus advogados que esteve conversando com um magistrado sobre sua situação jurídica e conclui o telefonema afirmando que o “juiz seria gente boa”.

As escutas realizadas pela Polícia Federal revelam ainda um lado assombroso das investigações. Parente de um diretor do Senado da República também teria envolvimento com a quadrilha. Sua identidade será preservada para que não haja prejuízo nas investigações policiais. O investigado aparece em várias ligações com um dos líderes da quadrilha negociando a compra e venda de cartões magnéticos, tarjas e chips eletrônicos.

O material é enviado do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Goiás, em nomes de terceiros conseguidos de forma ilícita, para as cidades de Fortaleza, Crateús e Novo Oriente, onde estão instaladas as bases do comando da organização criminosa. Uma vez no Ceará, os clonadores adulteram documentos como CPFs, contas de água, luz ou telefone e elaboram contracheques de servidores públicos com o intuito de fazer empréstimos em instituições financeiras. Os cartões também eram usados no pagamento de contas, boletos bancários e compras em supermercados e lojas.


DICIONÁRIO DOS CLONADORES


Amarelo – Refere-se ao Banco do Brasil.

Azul – Caixa Econômica Federal

Branco – HSBC

Carcaça – Cartão virgem ou aparelho de chupa-cabras, sem o chip de clonagem de dados.

Carvão – Dinheiro.

Casado – Termo utilizado para dizer que um golpe será aplicado com a ajuda de um terceiro, já previamente contratado, geralmente um empregado de uma lotérica, de um estabelecimento ou um bancário.

Descarregar – Transferir as informações captadas por um chupa-cabras para outro banco de dados informatizado.

Fazer um Vento – Conseguir um dinheiro.

Firma – Organização criminosa, geralmente na área de informática.

Gado – Correntista ou cliente bancário, que é potencial vítima da quadrilha.

Kit – Pacote incluindo uma luva de encaixe no bocal do terminal de saque, um chip e uma micro câmera, sendo orçado entre R$ 15 mil e R$ 20 mil.

Lavar – Bater em retirada.

Levantar uma ponta – Conseguir dinheiro a partir do negócio ilícito.

M – Sigla do cartão Mastercard.

Mala – Notebook ou computador onde serão descarregados os dados obtidos ilicitamente.

Manga ou Mangar – Cartão bloqueado nos terminais de auto-atendimento, ou golpe mal sucedido.

Máquina – Equipamento de clonagem, ou caixa-eletrônico de outrem.

Minha Jóia – Espécie de pronome de tratamento utilizado entre os integrantes da quadrilha.

Perfume – Máquina de clonagem, portátil, que pode ser levada em uma sacolinha de perfume.

Pena – Informações captadas e já inseridas em um chupa-cabras, já pronto para ser descarregado.

Quadrado – Cartão clonado.

Rabicho – Espécie de maquina de clonagem, que possui um fio comprido e é instalado dentro de terminais de auto-atendimento.

Realejo – Ora designa o chupa-cabras em si, ora é utilizado em relação ao equipamento que fabrica o cartão.

Régua – Cartão magnético virgem, onde será implantada uma trilha contendo dados obtidos fraudulentamente.

Trilha – Tarja magnética onde serão inseridos os dados captados fraudulentamente ou a decodificação dos dados inseridos na tarja magnética dos cartões.

Torar – Sacar ou subtrair.

TR – Linguagem cifrada para designar trilha ou tarja magnética.

Um Quilo – Unidade de milhar do real – Um quilo é igual a R$ 1 mil.

V – Sigla para identificação dos cartões da bandeira Visa.

Vermelho/Vermelhinho – Bradesco.

Verde – Banco Real.

X – Caixa Econômica Federal.