Blog pernambucano inova no monitoramento das políticas de segurança pública. Confira entrevista com editor

O contador não pára. Desde maio, são 754 pessoas* que perderam a vida em meio a atos violentos. Mais do que contabilizar homicídios no estado de Pernambuco, no entanto, o blog PEbodycount busca revelar que histórias e pessoas se ocultam nas estatísticas. Na humanização dos relatos, um lembrete à sociedade e às autoridades responsáveis pela segurança: o combate à violência trata, essencialmente, do reconhecimento de seus protagonistas como seres humanos, dotados de direitos e deveres.

A partir dessa constatação, o blog atua em várias frentes. A mais destacada é um desdobramento crítico do noticiário voltado à segurança. Com o espaço que a mídia impressa não oferece, a equipe de jornalistas – vinculada às maiores publicações de Pernambuco – abre espaço à fiscalização da ação governamental e a um maior aprofundamento das versões das ocorrências.

A busca é por um tratamento mais qualificado do tema. “Nossos gestores atuais e de governos passados não têm intimidade com o tema violência e ainda empregam muito mais o senso comum do que diagnósticos bem acabados ao analisar o tema”, detecta o jornalista Eduardo Machado, um dos editores do sítio eletrônico, que reproduziu o modelo de contagem de mortes presente, originalmente, num site sobre a guerra do Iraque.

Outras vozes se unem ao relato jornalístico. Especialistas no tema contribuem com o blog remetendo artigos de opinião. Os relatos das vítimas de violência também têm espaço.

A experiência é apoiada por entidades como a Associação do Ministério Público de Pernambuco. Em entrevista, Eduardo Machado discutiu políticas de segurança e como surgiu o blog. Confira trechos:

– A (in)segurança pública inquieta os brasileiros de praticamente todas as capitais. Que situação o PEbodycount encontrou no Estado, ao iniciar os trabalhos, em maio deste ano? Como o governo vem intervindo, e como a sociedade se porta diante da questão?
 
A violência em Pernambuco coloca o nosso Estado no topo do ranking nacional de homicídios há mais de duas décadas. A situação vem se reproduzindo e os números de assassinatos aqui estão em 4.638 homicídios ocorridos no ano passado e 1.714 até abril deste ano. É muita gente morta, a maioria à bala. Dentro desse contexto, eu e os jornalistas Carlos Eduardo Santos, João Valadares e Rodrigo Carvalho, todos repórteres com experiência nessa área de polícia, resolvemos criar um blog para discutir a Segurança Pública e contabilizar todos os homicídios ocorridos em Pernambuco. O atual governo mostrou disposição em enfrentar o problema e pela primeira vez estabeleceu uma meta de redução de homicídios que é de 12%. Já a nossa sociedade precisa participar muito mais do processo de cobrança e acompanhamento dos índices de criminalidade. Vivemos acuados, atemorizados, mas não nos mexemos pra transformar essa realidade.

– Que políticas públicas (sejam de segurança ou não) seriam necessárias, em sua avaliação, para fazer retroceder essa cultura da violência no seu Estado? E qual a parte que cabe ao cidadão?
 
Em todos os lugares do Brasil e do mundo onde os índices de violência caíram, houve inicialmente um diagnóstico, a definição de áreas prioritárias e o investimento casado de prevenção e repressão nesses focos. Significa ir nos locais onde mais se mata e colocar lá a presença do Estado na forma de reordenação do espaço urbano, infra-estrutura de maneira geral, opções de lazer, melhoria do transporte público, da saúde e da educação. Enfim, um banho de cidadania nessas áreas para que a vida passe a valer mais. Já a cota do cidadão, sobretudo da classe média, consiste em uma postura mais consciente, não só na hora de cobrar resultados, mas também na postura pessoal de cada um. Exigir uma polícia dura e incorruptível é fácil, difícil é se submeter a ela quando se é pego incorrendo em um erro.

– Como o grupo de jornalistas responsável pelo blog se articulou para iniciar esse inventário da segurança pública em Pernambuco?
 
Estamos há pouco mais de dois meses no ar, mas o trabalho para iniciar o PEbodycount começou em março, com um surgimento da idéia e as buscas por apoios, pessoas para desenvolver a tecnologia, o design, o conteúdo, e a parte mais trabalhosa que é a contabilidade dos homicídios. Por enquanto estamos limitados a uma equipe de quatro pessoas, nós mesmo, sem sede e com recursos mínimos.

– Os apoios institucionais estão presentes desde o início do projeto? Como essas parcerias foram consolidadas?
 
Essas parcerias foram concretizadas através da credibilidade do trabalho jornalístico dos editores. As ONGs (IACE e Disque-Denúncia) e a Associação (Associação do Ministério Público de Pernambuco) que nos apóiam acreditaram no projeto desde o princípio, quando o blog era apenas uma idéia. Graças a elas conseguimos concretizar o projeto.

Serviço
PEbodycount – http://www.pebodycount.com.br/

*Estatística referente ao último dia 10 de julho de 2007