Mais uma vez a polícia cearense apronta das suas. O saldo: três inocentes feridos, um dos quais deve ficar paraplégico
Mais uma vez a polícia cearense apronta das suas. Sai em perseguição a uma camioneta S-10, cor vermelha, uma cabina, pilotada por bandidos que teriam cometido um assalto. Defronta-se com uma camioneta Hilux, cor preta, duas cabinas, e, sem abordagem prévia ou qualquer tentativa de parar o veículo, abre fuzilaria, em plena via pública, em momento de grande fluxo de veículos.

O saldo: três inocentes feridos, um dos quais deve ficar paraplégico.
Em meio a grande comoção social e indignação causadas pelo revoltante episódio, que naquele momento assumia contornos de incidente de dimensão internacional, por serem cidadãos estrangeiros duas das vítimas, o Comandante de Policiamento da Capital vem a público advogar ter a desastrada ação policial se pautado dentro dos limites da legalidade.

Ao que parece, a lição do comandante, seu conceito demasiado elástico de legalidade, ecoou no seio da tropa. Vinte e quatro horas depois do fuzilamento dos inocentes, agentes do serviço reservado da Polícia Militar, ao arrepio das hipóteses constitucionais (prisão em flagrante ou ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente – artigo 5º, inciso LXI, da Constituição Federal), prendem duas pessoas acusadas de haver trucidado um policial e lesionado um outro.

Ao levá-las a um hospital da cidade são recepcionados por grupo de cerca de dez sicários que os rendem, levam-lhe as armas (convenientemente já encontradas) e promovem a execução sumária dos dois presos, alvejados no porta-malas mesmo do veículo policial em que eram conduzidas.

O saldo: um homem morto e outro gravemente ferido.
Além do atestado de incompetência, despreparo e irresponsabilidade passado pela polícia, que leva à necessidade urgente e imperiosa de uma imediata requalificação de seus quadros, os recentes acontecimentos conduzem a uma outra reflexão. Ao que parece, a polícia, mesmo havendo acabado de atentar contra a vida de quatro inocentes, num episódio que enodoa indelevelmente a história da polícia militar e do qual já se apressou em pedir desculpas o Governador Cid Gomes, não se deteve em suas ações ilegais, prendendo ilegalmente, invadindo residências sem mandado judicial, deixando de oferecer, para dizer o menos, segurança àqueles seus custodiados.

Preocupa, assim, o propósito deliberado de setores das forças policiais de manter atuação à margem do direito. Ao assim fazer, insubmissos à lei, lançam um desafio ao estado democrático de direito, agora mais do que nunca chamado a fazer impor a sua autoridade.

Ou assim se procede ou preparemo-nos todos para a barbárie, gerada pela crise de autoridade e desafiante insubordinação, num cenário em que já não seria verdadeira a máxima verbalizada por Lúcio Flávio, um dos primeiros bandidos irresponsavelmente glamourizados pela imprensa nacional, para quem “bandido é bandido e polícia é polícia”.