PM: inquérito frustrante Editorial do Jornal O POVO, do último dia 19, destaca que “nem o Ministério Público, nem a opinião pública aceitam o resultado apresentado pelo inquérito policial-militar sobre sumiço de fuzis no QCG da PM”
A opinião pública cearense ainda rumina o resultado do inquérito policial militar encarregado de apurar o desaparecimento de 12 fuzis, calibre 7.62 milímetros, do depósito do Quartel do Comando Geral (QCG) da Polícia Militar, no Bairro Fátima, seis meses atrás. O resultado curioso não identificou nenhum culpado, mas isentou, de pronto a participação de membros da corporação.
Pior: o resultado deixa muito mal a imagem e a competência do serviço de inteligência da PM, que não consegue obter êxito numa investigação em um ambiente supostamente controlado. Imagine-se se tiver de atuar em situações de mais difícil controle, ou mais complexas. Será tão denso, realmente, esse mistério? O Ministério Público parece ter entendido que não – tanto que mandou de volta o inquérito, pedindo novas diligências, recusando o arquivamento pedido pelos seus responsáveis à Justiça Militar. Resta saber se isso adiantará, se forem os mesmos os encarregados da apuração.
Aliás, a própria corporação deveria ter tomado a iniciativa de requisitar uma investigação externa – através de um órgão independente -, justamente para evitar situações embaraçosas como essa, que avariam sua credibilidade perante a opinião pública, por mais que possa ser injusta essa avaliação. Colega investigando colega nunca aparece como a melhor solução, por mais que a condução possa ser isenta, do ponto de vista da subjetividade de seus realizadores. A visão externa, nesse caso sempre fica prejudicada. Assim, seria melhor, por princípio, evitar essa possibilidade de mau juízo. Inevitável, quando se demonstra tanta certeza de não ter havido participação interna.
O grave é que no quartel do Comando Geral da Polícia Militar, está seu comandante e sua equipe e estes não podem estar vulneráveis. Os resultados do inquérito, no entanto, deixam a impressão de que estão desprotegidos. Ora, se isso ocorre no Comando Geral da PM qual a conclusão retirada por cada cidadão do episódio?
Ademais, o atentado foi entendido como uma tentativa de desmoralização da gestão do secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Roberto Monteiro. Dificilmente, alguém o entenderá diferente. Assim sendo, o resultado desse inquérito interessa a toda sociedade, não se tratando apenas de uma questão corporativa. Daí, porque esse inquérito deveria merecer uma atenção especial, inclusive com recursos técnicos mais sofisticados e monitoramento externo mais rigoroso. A impunidade, nesse caso, poderá ser um alimentador de ações semelhantes – se de fato, outros interesses estiverem envolvidos no episódio. A PM só teria a ganhar, se abrisse mão do formalismo normativo e entregasse a investigação a outros órgãos.