O VI Encontro do Ministério Público no Cariri, promovido pela ACMP – Associação Cearense do Ministério Público – terminou, na última sexta-feira, 15, como começou: em grande estilo e com muita emoção.

O VI Encontro do Ministério Público no Cariri, promovido pela ACMP – Associação Cearense do Ministério Público – terminou, na última sexta-feira, 15, como começou: em grande estilo e com muita emoção. Encerrando o já tradicional evento jurídico – o maior do gênero fora de Fortaleza – os promotores de Justiça do Cariri, por iniciativa própria, reuniram-se em uma oportuna homenagem surpresa ao colega de trabalho, Elder Ximenes Filho, coordenador do encontro. “Os Promotores de Justiça do Cariri homenageiam o colega Élder Ximenes Filho, pela competência e dignidade no exercício de suas atribuições” – fez justiça o reconhecimento inscrito na placa entregue ao homenageado.

Nas galerias de fotos mais abaixo, veja esse e outros momentos do evento.

O encontro do Cariri foi realizado nos dias 13,14 e 15 de agosto, no Memorial Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, contando com a participação recorde de mais de 600 inscritos que, em todas as palestras e debates, lotaram o auditório do espaço que homenageia Padre Cícero Romão Batista, o padroeiro – mesmo sem ser ainda reconhecido santo pela Igreja Católica – dos juazeirenses e de uma numerosa legião de nordestinos em todo o Brasil.

Confira as fotos do evento dia-a-dia
Quarta-feira, 13 de agosto
Quinta-feira, 14 de agosto
Sexta-feira, 15 de agosto

Apesar de ter como tema central “Os 20 anos da Constituição: o Ministério Público como Protagonista da Transformação Social”, o VI Encontro discutiu um elenco de questões fundamentais para o MP e para a sociedade. Apresentados por palestrantes e debatedores cearenses e de outros estados, do mais elevado nível e conhecimento da respectiva matéria, entraram na programação assuntos jurídicos e outros que fazem parte do quotidiano das pessoas, como o trânsito, violência contra a mulher, infância e adolescência e eleições. As questões jurídicas concentram-se no debate do constitucionalismo e da modernização do processo penal.

Abrilhantando o temário das palestras, o professor argentino Luís Alberto Warat, doutor pela Universidade de Buenos Aires e pós-doutor pela Universidade de Brasília, fez a conferência de abertura, para um auditório lotado, discorrendo sobre o caráter argumentativo das garantias constitucionais e os aspectos ideológicos da natureza jurídica. Além de professor em várias universidades brasileiras, entre as quais a UnB, Warat é presidente da Associação Latino-americana de Mediação, Metodologia e ensino no Direito e autor de mais 40 livros.

Lazer e cultura  

Porém, o VI Encontro do Cariri não se limitou à discussão de temas jurídicos. Apesar da rigorosa programação oficial prestigiada pelos participantes do evento, os dois dias passados no Cariri permitiram momentos descontraídos de confraternização entre procuradores e promotores de Justiça, em passeios, compras no sortido e movimentado comércio da Terra de Padre Cícero e dois prestigiados jantares.

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A orquestra de rabecas se apresenta na abertura do evento

Na pauta oficial do encontro também foi permitida a comercialização de livros jurídicos e incluídas apresentações artísticas do folclore caririense/nordestino, como o recital da Orquestra de Rabecas do Cariri, a única do Brasil, e a exposição e venda de obras de arte popular, cordel e xilogravura. As pequenas esculturas artesanais em barro e pintadas das irmãs Cândido chamavam atenção no hall de entrada do Memorial Padre Cícero, pela sua delicadeza, colorido e riqueza de detalhes da vida nordestina. Em quadros de barro são retratados personagens como o vaqueiro, mulher rendeira, Lampião e Padre Cícero, é óbvio, e cenas do Nordeste, como a vaquejada, o forró e a festa junina.

Cândidas de carne e barro

Já conhecidas no Brasil inteiro e em países da Europa, as irmãs Cândido são sete filhas de dona Maria de Lurdes Cândido Monteiro, de 68 anos, típica mulher nordestina, casada, dona de casa, mãe de onze filhos (quatro são homens), avó de 23 netos e um bisneto, artista plástica do barro, por talento e necessidade. Foi ela que começou a esculpir os bonequinhos de barro – no início apenas para os filhos brincarem, na infância miserável do sertão nordestino – hoje expostos e vendidos no concorrido eixo da arte Rio-São Paulo, em outros estados brasileiros e até na França, o que garante o sustento das famílias da matriarca, de suas filhas e de um filho casados. 

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Dona Lurdes Cândido e a filha famosa, Maria 

Apesar de ter iniciado a arte das irmãs Cândido, dona Lurdes, como é conhecida, não é mais famosa e nem a mais viajada delas. A conhecida no Brasil e no exterior é Maria Cândido, a segunda filha mais velha, que viaja levando a arte da família para além das fronteiras de Juazeiro e do Cariri. Mas, quem dá a direção é a mãe. Filha de Juazeiro do Norte e de Padre Cícero, dona Lurdes, como é conhecida, explica o processo de produção artesanal das obras de barro, desde a compra do material em uma olaria local até a finalização das esculturas. Tudo manualmente.

O marido, João Américo Monteiro, de 72 anos, é o responsável pelo trabalho pesado de transportar, botar para secar, bater e peneirar o barro no terreiro. Só então, as artistas entram em cena para dar vida ao barro através de sua arte ingênua, pura e bela, um variado e colorido retrato do Nordeste brasileiro. Dona Maria de Lurdes reconhece o valor econômico de sua arte para o sustento da família pobre que já viveu do árduo e pouco produtivo trabalho na roça do sertão nordestino, mas não deixa de destacar a importância de exposições como a do VI Encontro do Ministério Público no Cariri para difundir a arte e a cultura do Nordeste.

Exceção à regra

Contrariando Nelson Rodrigues, foi possível registrar uma sábia unanimidade – ressalte-se – entre organizadores, palestrantes e participantes do VI Encontro em relação à importância e ao sucesso do evento jurídico. O presidente da ACMP, Promotor de Justiça Francisco Gomes Câmara, defensor intransigente do papel constitucional do MP na defesa da sociedade e na aplicação da lei, não cabia em si de contente pelo número de participantes inscritos, muito acima dos 400 esperados.

“Isto é um claro sinal de que o Ministério Público e a Associação Cearense do Ministério Público, particularmente no Cariri, vêm conseguindo realizar o seu trabalho com êxito e estabelecendo uma parceria proveitosa com a sociedade” – afirma Gomes Câmara.

Para o professor de direito civil e do consumidor da Urca – Universidade Regional do Cariri – e advogado radicado em Juazeiro do Norte, Inaldo Bringel, o encontro do Cariri, promovido pela ACMP, é extremamente valioso por dois motivos: “Primeiro, por difundir e atualizar o conhecimento jurídico e, segundo, por promover a desmistificação da instituição ministerial. Fica consubstanciado que o Ministério Público está voltado para a Constituição“ – depõe o professor que é mestre em direito constitucional e doutorando em ciências jurídicas e sociais, pela Universidade do Museu Social Argentino, em Buenos Aires. Ele elogiou ainda a organização do evento e a sua temática interdisciplinar.

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O professor universitário e advogado Inaldo Bringel

Os estudantes de direito da Urca e da Faculdade Paraíso, em Juazeiro do Norte, foram presença maciça no encontro. Eles também são unânimes em reconhecer a validade e o sucesso da iniciativa da ACMP no Cariri. Apontam como ponto alto a organização e abertura do evento para a juventude, o alto nível dos palestrantes e debatedores, a diversidade, interdisciplinaridade (direito, medicina, filosofia, sociologia e psicologia) e atualidade dos temas abordados. Os acadêmicos também destacam a promoção como uma demonstração concreta da atuação do Ministério Público.

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Lara Onofre Feitosa, 21, faz o sétimo semestre de Direito na Urca (Universidade Regional do Cariri). Ela considerou o encontro “muito bem organizado e com palestrantes de alto nível”

O advogado Leopoldo Martins Filho, militante em Fortaleza e no Cariri, que participou do encontro, destaca a presença da juventude e lamenta a ausência de colegas de profissão em eventos dessa natureza, “por problemas culturais e pontuais” – afirma ele.

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O advogado especialista em direito penal Leopoldo Martins Filho

“O advogado quando sai da faculdade sente-se completo. Acha que sabe tudo. Não aceita a reciclagem e até mesmo a opinião de um colega. Há uma contradição nessa atitude, pois, como todo profissional, nós precisamos participar de eventos como o VI Encontro, onde há difusão do conhecimento e da informação jurídica e até mesmo a oportunidade de externarmos nossa opinião e critica construtiva ao que não concordamos no processo jurídico” – concluiu.