Artigo do promotor Marcus Amorim discute como é possível lidar com situações-limite como a do de seqüestro em Santo André (SP), que vitimou a jovem Eloá Pimentel (foto)
Crise pode ser definida como um evento ou situação crucial que exige uma resposta especial da polícia a fim de assegurar uma solução aceitável. Autoridades públicas, como oficiais da polícia militar, delegados de polícia civil, promotores de justiça, magistrados, e também advogados, normalmente são instados a intervir em situações dessa natureza no sistema prisional e durante episódios criminógenos de alta complexidade, como seqüestros e assaltos com tomada de reféns.
O Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional de Segurança Pública, recentemente ofereceu, em Salvador, curso de gerenciamento de crises para policiais nordestinos. Episódios lamentáveis e chocantes como o drama vivido por duas adolescentes e seus familiares em Santo André, de fato, põem em relevo a cada vez mais premente necessidade de preparação e aperfeiçoamento de agentes de segurança pública para enfrentar certas adversidades muitas vezes imprevisíveis, aí incluídos os casos de indivíduos que apresentam comportamento instável num contexto de forte desilusão amorosa.
O gerenciamento de crises envolve diversas estratégias não-violentas que se destinam a promover uma negociação com o criminoso, no objetivo de encontrar uma saída tanto menos drástica quanto possível para a situação. Busca-se, sobretudo, preservar a integridade física e psicológica das vítimas (seqüestros) e evitar danos aos envolvidos (rebeliões em presídios). Um diálogo negociativo, todavia, tem seu conteúdo limitado (há exigências que não podem ser aceitas) e sua duração não pode ser muito alongada.
Mesmo policiais experientes no manejo de crises, como os integrantes do GATE paulista, estão sujeitos a ações inesperadas dos criminosos e até das vítimas, e as difíceis decisões a serem tomadas não escapam a críticas. Muito se tem falado sobre o retorno da jovem Naiara ao apartamento onde se encontravam Eloá e seu ex-namorado, uma atitude que poderia ter-lhe sido fatal. Esperamos que, no Ceará, cujo titular da Pasta de Segurança Pública já publicou um trabalho sobre esse tema, nossos policiais estejam efetivamente preparados para crises como o de Santo André.